"PALAVRAS SOLTAS "
Ponto de encontro para quem valoriza a arte e sabe o quanto este elemento transforma nossas vidas. Arte em todos os seus aspectos: escrita, musical, cinematográfica e principalmente a arte da amizade e do relacionamento verdadeiro.
O que falar sobre o amor ? Como saber se o conhecemos em plenitude ?
Vou copiar a chamada da imprensa sensacionalista colocando a tarja chamativa na notícia: ATENÇÃO: IMAGENS FORTES ABAIXO. Nestes vídeos, não tem quantidade de palavras que possam explicar. Em tempos de falta de amor por completo, estes vídeos são meus alimentos.
No
dia 11/02/2020 fui surpreendido com a notícia de que o pianista Lyle Mays
faleceu em Los Angeles por uma doença ainda não divulgada. Em primeiro lugar o
lamento é pela morte de um ser humano. Apesar de nunca ter falado com Lyle Mays
em linguagem verbal, ele soa como uma pessoa que conhecia há muito tempo. E o
sentimento é de que um amigo de tempos tenha partido. Lyle Mays falou e se
comunicou comigo durante muitos anos através da música, da linguagem universal
da música. Para mim, ele é o melhor pianista, arranjador e tecladista que eu já
vi. E ele faz a música que eu gostaria de ouvir, exatamente com as harmonias
que gosto de ouvir. Nesta linguagem musical que nos comunicamos, recebi
exatamente tudo que precisava de uma pessoa que sequer tem ideia dos benefícios
que me causou. Somente a linguagem artística é capaz de produzir tais
sentimentos, a ponto de parecer hoje, que um ente querido se foi. E quando isto
acontece, um pedacinho da gente se dissolve também.
Fica
até difícil explicar, mas o jeito que Lyle Mays coloca as notas no piano nas
músicas que toca, transforma e leva a composição para outro nível. Ele é capaz
de produzir notas em tom maior ou menor, que entram dentro de nossas veias,
atingem a alma, produzindo uma sensação de prazer indescritível. Tivemos a
sorte de três gênios da música se juntarem no mesmo grupo: Lyle Mays, Pat
Metheny e Steve Rodby. Eles levaram a música instrumental a ter alcance intercontinental,
com turnê de classe mundial, assim como
um grupo pop como U2. Isto era praticamente impossível antes do Pat Metheny
Group que arrebatou fãs pelo mundo inteiro. E um dos pilares deste grupo foi
Lyle Mays, que emprestou sua genialidade nas composições do grupo, além de
desenvolver também discos solos maravilhosos durante todos estes anos.
O
importante nisto tudo é que Lyle Mays continuará falando comigo mesmo depois de
ter partido pois todos os dias eu escuto uma participação sua em alguma música
de minha playlist. Não tem outra forma mais efetiva de imortalidade. Lyle Mays
alcançou algo que todos nós queremos. E esta música universal já está com meu
filho, que provavelmente passará aos meus netos, que passarão aos seus.
Como
vale muito enfatizar, seremos lembrados pelas nossas obras. Nem sei qual carro
Lyle Mays tem, em qual casa mora, nem sua conta bancária, mas na minha opinião,
estou em seu testamento, pois deixou sua obra musical inteira para que possa
continuar sentindo o que somente a música pode provocar. Lyle Mays deixou o que
ele tinha de melhor para mim.
Se
você não conhece ainda a obra deste artista genial, pesquise. Gosto é
subjetivo, mas genialidade é universal e Lyle Mays é um gênio da música.
Que muitas notas musicais continuem a soar deste
pianista genial chamado Lyle Mays.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
INTENSIDADE
Fazia tempo
que eu não via a materialização efetiva da felicidade de maneira tão explicita
como presenciei há alguns dias. Apesar de ser um elemento cada vez mais escasso
e quando aparece se apresenta com formatos variados no cotidiano, percebi que perdemos
com o tempo a capacidade de saber sentir o que é ser e estar feliz. A grande
professora desta preciosa lição gratuita recebida em dose integral, desta vez,
foi minha adorável e intensa filha Júlia. Adorável e intensa porque ela
transita entre estes dois elementos com a maior facilidade e consegue ser
intensa sendo adorável. Não erra em nenhuma das duas medidas.
Viajamos em
família há poucos dias para nosso lugar de direito aqui na terra, que nomeamos
como nosso, sem precisar lavrar escritura em cartório e a pequenina menina de
quatro anos mostrou, escancarou e emprestou a todos nós a empolgação de se
encontrar em perfeito estado de felicidade plena de forma intensa. E isto é tão
contagiante que pega, te envolve e te transforma; a capacidade de uma pessoa de
1,10m pelo seu sentimento transformar os que estão ao seu redor. Eu estava feliz
por estar onde queria estar, com quem queria estar mas nem de perto cheguei ao
que esta pequenina sentia. E ela me transformou, nos transformou e ensinou uma
lição básica: é possível contagiar e ensinar apenas pela forma de sentir as
coisas, de irradiar o que se sente por dentro sendo INTENSA. Esta é a palavra.
Cada minuto
que ficamos nestes dias neste nosso lugar foram completamente intensos. Toda e
qualquer atividade perto dela tem a intensidade que a felicidade em estar vivenciando
aquilo tudo provoca. Nos dias atuais a classificariam talvez como “hiper-ativa”
ou sei lá qual rótulo se colocaria ali. Não se pode confundir má educação e chatice
como hiperatividade. A Júlia é intensa, mas muito educada e sensível,
colaborativa e completamente compreensível e obediente. Juro não ser ótica de
pai. Como pode tudo isto na mesma criança ? Mas não tente ser morno perto dela.
Não tente entregar algo mais ou menos a ela que isto não será aceito, a ponto
dela exigir o seu melhor e transformar sua atitude. E nesta exigência da
entrega total, ela sempre vence, sem birra, sem chatice, sem gritos, sem má
educação, mas com a persistência da exigência que os intensos tem como
característica.
A intensidade.
Como esta palavra está distante. E ela precisava voltar ao cerne da nossa vida.
Quando se faz algo com pouca vontade, sem intensidade, Deus não abençoa e as
coisas não acontecem. Sempre usei este mantra como estilo de vida, mas não
esperava ver tão intensamente isto se materializando em uma criança. Júlia
define muito rapidamente o que quer, tem uma convicção que vi em poucas pessoas
e quando ela consegue vender sua ideia para que um fato aconteça e isto te
envolve junto na empreitada então pense antes de aceitar pois ela já definiu a
intensidade do projeto. E não é assim que deveria ser nossas atitudes na vida ?
Aceitar somente aquilo que iremos entregar completamente e não dizer diversos
sim pela metade.
Com a Júlia os
simples fatos de tomar um sorvete, assistir um filme tem lá sua intensidade. Assistir
a um desenho com ela é presenciar a pequenina incorporar o personagem e na
maior parte das vezes, ela exige que você também seja um dos personagens. É
assim, intenso. Não tente assistir ao desenho lendo mensagem no celular,
falando ao telefone ou conversando com outra pessoa. Isto é o pacote pela
metade. E ela exige o todo. E não te dará sossego até você cumprir com o
combinado, tudo de forma educada, clássica e intensa até você se render ao que precisa
ser feito. Sublime convicção.
A intensidade
dela têm relação com as coisas simples e importante. Sinto nela a vida, a
vontade de vivenciar o belo, sem trocas, sem distrações desnecessárias.
Acredito que
todos nós precisamos aprender com ela uma lição que como adulto as vezes
deixamos pelo caminho. Seja intenso naquilo em que colocar a mão, seja na área
sentimental, profissional, nas relações. Isto é libertador. Mesmo que dê
errado, que sofra decepções, que não seja valorizado (valor é a gente que se dá
em primeiro lugar) mas seja intenso. Fazer qualquer coisa sem intensidade é
perder vida, é sofrer diante da sua consciência e seguindo o mantra, Deus não
abençoa.
Quer saber
mais sobre intensidade ? Olhe para a foto abaixo da esquerda para a direita e
veja este sorrisinho maravilhoso.
Hoje é um dia
que estou provando a dor do amor. Em todo tempo que moro na minha atual casa,
hoje especificamente está sendo o dia mais difícil de voltar para lá. Uma
sexta-feira que para mim segue fria e cinzenta diante da imensa perda que este
dia me trouxe: foi embora a July minha cachorra. Muitos pensarão: era apenas
uma cachorra! July não era apenas uma cachorra. July era a forma mais concreta
de personificar a palavra amizade. Escrevo neste momento para tão somente selar
meu amor por este ser, fato que talvez eu não consiga descrever nas próximas
linhas.
July
era a expressão do amor. Foi um dos seres vivos que mais me ensinou sobre amor.
Não consigo classificar o grau de relevância desta pequenina que tanto se dedicou
a uma família quanto minha adorada July. Chegou à minha casa no ano de 2000, ano em que
eu me casei. Acompanhou todos os fatos importantes de nossas vidas até aqui.
Ensinou-me, junto com seu companheiro Toquinho, elementos que foram me
construindo para tornar-me futuramente pai e chefe de família. Foi com ela que
aprendi que cuidar vai muito além de por água e ração todo dia. Foi com ela que
aprendi muitas lições das quais coloco em prática atualmente principalmente no
que tange a resiliência. Estando ao nosso lado todo este tempo presenciou os
melhores e piores momentos deste ciclo e nunca deu um passo em falso na sua
principal especialidade: amar. Sim, muitas
vezes um cachorro te ensina muito mais que alguns seres humanos; o amor que ela trazia era muito maior que as
travessuras que ela aprontava; ensinou-me o que é se dedicar a alguém e como
amar deve ser um exercício de todos os dias independente do que você receba em
troca.
July
acompanhou desde o início a construção da minha família. Muitas vezes foi minha
companheira nos momentos de solidão a dois. Nos momentos de preocupação,
parecia ler meus pensamentos e o simples fato de recostar sua cabeça em minhas
pernas, conseguia me acalmar. Assistiu ao nascimento do José Renato e da Júlia
e acolheu aos dois como se fossem seus. Aqui tenho algumas considerações. July
era de uma inteligência singular. Tinha uma relação de cumplicidade com o José
Renato. Ela dormia na sala e como nossa casa é um sobrado e os quartos ficam em
cima existia uma separação durante as noites que ela não se conformava. A
escada era um hífen entre ela e o José Renato e para ela uma correção
ortográfica era necessária para unificação. A noite todos nós subíamos e
naturalmente o José Renato dormia antes (ainda não tínhamos a Júlia). Eu e a
Erika ainda atentos, escutávamos os passinhos na ponta da pata tentando subir
sem ser notada, para pular na cama do José Renato e dormir com ele. Sempre
dávamos bronca e ela voltava do meio da escada toda triste e se mostrando inconformada.
Ela esperava eu e a Erika dormir e subia e se ajeitava junto ao José que
acordava, ficava quietinho e ainda abraçava a danadinha com direito a coberta e
travesseiro. Pela manhã ao adentrar o quarto encontrava os dois cumplices de um
crime em favor do amor, onde somente uma criança e uma cachorrinha são capazes
de produzir em sua pureza de coração. Estavam lá os dois dormindo que dava até
pena de acordá-los. Isto aconteceu enquanto ela teve forças para subir as
escadas.
Com a Júlia a
questão foi diferente. A Júlia já nasceu apaixonada pela July, pelo menos esta
é a nossa sensação. Desde os dois meses, a Júlia tinha uma loucura de paixão
pela July que eu nunca vi em lugar algum. Acho que as duas já sabiam o que uma
significava para a outra. Com dois meses a maior alegria da Julia era ficar
perto da July e a simples separação causava chora na pequenina que demorava a
se distrair com outra coisa.
Tenho
várias lembranças boas dela. Quando eu acordava ela era a primeira a vir ficar
ao meu lado e assim permanecia até minha saída. Acompanhava-me todas as manhãs
como se fosse um ritual. Lembro-me
principalmente de suas crias. Foram três no total, sendo cada uma gerando seis ou
mais cachorrinhos. Em todos os trabalhos de parto eu participei, durante a
madrugada ajudando a retirar seus filhotes. Sentia que ela ficava muito
confiante quando eu estava com ela e nosso amor ia crescendo um pelo outro.
Uma de suas traquinagens
preferidas era sair correndo para a rua
quando alguém abria o portão. Quantas vezes saí correndo atrás dela para
pegá-la seis quarteirões à frente. Quando eu estava quase perto de pegá-la ela
aprontava uma correria maior ainda, o que me tirava um pouco do sério, mas nada
a ponto de desistir dela, pois sabia que ela tinha muito valor para mim. Um dia, fomos ao pátio da Basílica e quando a
soltamos ela aprontou uma correria que nem eu, nem o José Renato nem a Erika,
demos conta de impedir. Já estava anoitecendo e neste dia meu coração gelou
pensando que iria perdê-la. Uma turista a segurou e veio procurando o dono.
Alívio dela e nosso!
Nos
últimos anos infelizmente ela começou a ter problemas de saúde. Quando a Erika
estava grávida da Júlia, ela teve um problema que a impedia de levantar as duas
patas traseira. O movimento só foi recuperado depois de um confinamento de 50
dias em pouco espaço para evitar qualquer movimento brusco. Foram dias difíceis
para ela e para nós. Mas nossa pequena July se recuperou, com alguns problemas,
mas voltou a andar e a participar ativamente de nossas vidas. Só não conseguia
mais subir as escadas.
No
último mês, July sofreu um problema que a fez perder o equilíbrio, caindo
diversas vezes e impedindo de se movimentar. O problema se agravou de tal
maneira que ela parou de comer, parou de ingerir até líquido. Tudo isto nos levou a ter de tomar a decisão
mais dura de nossas vidas até o momento. July se foi numa manhã fria que
congelou nossos corações.
O
que fica de tudo isto ? Fica o amor que continua apesar de não tê-la mais em
nossa companhia. Enquanto eu viver, July viverá, enquanto todos nós estivermos
aqui nesta casa, July estará mais viva do que nunca. Lembrando um pouco de
todos estes fatos tenho a sincera convicção de que apesar da tristeza ser
profunda a alegria que July deixou em nós é muito maior. Sinto muito por perder sua doce
convivência. O quintal perdeu um pouco
de sua magia e nós ganhamos nestes anos aqueles presentes que a vida nos dá
nesta nossa rápida trajetória por aqui.
Em meus passeios com meu filho,
lembro-me dele sempre fazer uma pergunta: “Pai, se você fosse um bicho, que
bicho seria ? “. Respondia a ele, não sei se consciente ou inconscientemente: “um pássaro”.
Diversas vezes feita a pergunta e
diversas vezes a mesma resposta. Nem sei bem o porquê desta resposta. Uma
possível explicação venha dos seguintes fatos:
Pássaros pela habilidade de voar,
talvez representem a máxima expressão de liberdade que um ser exerce. O limite
é o infinito. Liberdade talvez seja a coisa mais sonhada por qualquer pessoa
inclusive por mim. A palavra liberdade muito me atrai. Entenda-se aí a
amplitude da palavra liberdade. Nós seres humanos estamos longe da liberdade
pelo próprio regime de vida em que nos metemos. A liberdade da expressão, a
liberdade financeira, a liberdade intelectual, a liberdade psicológica, a
liberdade do tempo, a liberdade de criação, a liberdade da confiança, a
liberdade religiosa em diversas partes do mundo, a liberdade roubada em alguns
pontos do planeta pelo simples fato de nascer mulher, a liberdade em diversos sentidos. Sempre estamos condicionados à algum
limitante dentro deste conceito mais amplo de ser livre, seja por questões
diretas ou indiretas, que se fazem necessários a adaptação de uma vida humana
em sociedade nos tempos em que seguimos. Hoje a liberdade tem de ser aplicada principalmente
dentro de seu pensamento, fugindo das correntes invisíveis que por vezes nos
são atribuídas. Pássaros decididamente não são assim. Só se furtam de sua
liberdade se for pelas mãos do homem que ainda acha que em gaiola se cultiva alguma
relação com algum ser. Nós humanos nos furtamos de nossa liberdade por
infinitos motivos dos quais talvez necessitem de discussão em outro post pelo
tamanho do assunto que isto demandaria.
A outra lógica para a resposta “pássaro”,
segue a linha de que desde pequeno, gosto muito de contemplar e interagir com
bichos. Em especial sempre gostei muito de pássaros. Quando eu era criança,
qualquer filhote de pardal que caía e que ainda não conseguia voar era objeto
de meus cuidados em caixas de sapatos personalizadas, almofadadas, devidamente
forradas; seguia-se a isto, tentativas de alimentá-los para tentar recuperar o
bichinho e devolvê-lo a natureza. Sempre tive admiração por este ser pequenino,
que oferece um encantamento único para quem consegue exercer o poder da
contemplação. Em áreas mais arborizadas sempre gostei de escutar os vários sons
produzidos por estas admiráveis criaturas. Quando estou caminhando em lugares
mais arborizados escuto os mais diversos sons. Como pássaros são musicais e
música corre em minhas veias, talvez esteja aí mais um motivo para o nosso
entendimento.
Um
dia, passeando pelo parque das águas em Caxambu, escutei o canto de um pássaro
que era a coisa mais linda do mundo. Não consegui identificar o dono daquela
poderosa e curta melodia, mas fiquei encantado. Criei o projeto dentro da minha
cabeça: “cantos em todos os cantos”.
Significa aguçar os ouvidos para o que normalmente não percebemos. Desde então,
procuro escutar todos os cantos possíveis de pássaros onde eu estiver. Seja na
cidade ou em áreas mais específicas eles estão cantando e eu estou pronto para
perceber. Como disse uma vez quando escrevi sobre a serra da Mantiqueira, tudo
está aí, nós é que perdemos o poder de notar. Para mim como músico que toca um
instrumento de ouvido, não foi tão difícil no sentido da escuta, mas é complexo
quando se diz em desligar de outros pensamentos e estar inteiro com você mesmo
naquele momento, naquele lugar. Trazendo para efeitos práticos, quando estou
caminhando, ao invés de meu pensamento (esta fera indomável) caminhar fora do
percurso que estou fazendo, ele me acompanha concentrado nos sons emitidos pelo
caminho. E funciona muito. Esta é minha técnica de meditação. Minha alma fica
junto com meu corpo.
Com
o projeto cantos em todos os cantos já em andamento dentro da minha cabeça,
decidi dar um novo passo. Fui em direção a registrar estas criaturas
maravilhosas. Minha missão então começa em fotografar os pássaros. Descobri algo muito legal, pois aí sim
verifiquei que estava ali complementando outros pontos fundamentais:
concentração, paciência, gratidão, contemplação e espiritualidade. Nunca pensei
que o simples fato de sair a fotografar pássaros me traria todos estes
benefícios. Bom ressaltar que só fotografo pássaros soltos na natureza.
Começou aí um
processo de aprendizagem. Através dos pássaros estou me conhecendo melhor,
podendo me interiorizar em cada investida no sentido deste propósito. Este é o
meu processo de meditação e interiorização desde então. Confesso que não
conheço nada ou quase nada de fotografia. Ganhei uma câmera da minha esposa e
estou ainda no início. Este início está me fazendo tão bem que não pretendo
mais parar. Meu filho está seguindo o mesmo caminho e já estamos fazendo
algumas investidas em dupla.
O processo de
fotografar pássaros é muito interessante. Acredito que alguns pássaros até
sabem que estão sendo fotografados. Tenho uma cena com um bem-te-vi que está na
foto aqui no blog que indica exatamente isto. Ele pousou na minha frente e
voava de volta fugindo. Vinha e voltava. Fiquei parado no mesmo local. Minha
máquina não estava com zoom aplicado. Fiquei minutos a fio parado tentando
fazer com que o candidato a um registro pegasse confiança. E a confiança se
estabeleceu. Eu o fotografei com a máquina e ele me fotografou com este olhar
aí que você vê na foto.
Um outro
momento que gostei muito foi quando saí para caminhar com meu filho e dei de
cara com diversas andorinhas na rua da minha casa. Elas estavam dispostas em fios
que pareciam as linhas de uma pauta musical; as andorinhas pareciam ali as
notas de uma pauta criando um som imaginário na minha cabeça.
Neste mesmo
dia mais a frente, verifiquei uma placa de trânsito indicando PARE. Quando
cheguei mais perto vi que alguém havia complementado a placa com um “não PARE
de sonhar”! E em frente a esta placa observei dezenas de andorinhas nos fios.
Cenário ideal para uma foto dizendo tudo que acredito. Tempo meio nublado a
frente dizendo que vem tempestade, mas que as andorinhas ali dispostas
conseguiriam enfrentá-la em busca do sonho de continuar vivendo e ver o sol ou
as estrelas que viriam logo a seguir.
Quando vejo
uma criatura pequenina como um pássaro desfilar sua leveza no ar, fica a
pergunta de qual criatura realmente é mais frágil: o homem ou um pássaro ? E a beleza incontestável de suas cores e cantos ?
Normalmente
o homem influencia a vida dos pássaros por sua burrice em maltratar a natureza,
provocar desmatamento e mais recentemente acabar com a água. Este é o mais
comum. Comigo está acontecendo completamente ao contrário. Os pássaros estão
influenciando minha vida. E assim deveria ser com todos. Começo a achar absurdo
porque não existem políticas públicas voltadas a incentivar a volta de pássaros
para as nossas cidades como diz o ornitólogo Johan Dalgas Frisch. Segundo
ele, o simples fato de plantar árvores frutíferas, árvores ricas em conteúdo
para que pudessem se alimentar, traria de volta os sabiás, beija-flores e
outras espécies aos nossos quintais e portas. Em minha cidade eu comento que
não se pode ver uma árvore que a prefeitura tem vontade de derrubar. Fico maluco
com tais atitudes. Na vida moderna, empreendimentos são necessários. Não sou
contra, mas as aprovações deveriam levar em conta e condicionar a uma criação de uma pequena
parcela de área verde em contrapartida. Um exemplo desta idiotice aconteceu perto de
mim. Em meio a maior avenida de minha cidade havia uma separação de duas
avenidas com diversas árvores plantadas em um canteiro central há tempos. A
necessidade de colocar mais pontos de comércio para esvaziar uma outra região
(que cresceu desordenadamente através da permissividade descontrolada do poder
público) disparou uma ordem estúpida de
simplesmente desaparecer com tal canteiro central, levando embora todas as
árvores. Não existiu contrapartida, não foi feito nenhuma compensação a
respeito. Todas as árvores foram embora. Com elas os pássaros dali tiveram de migrar
para outro local. Talvez queiramos mais preservar a pintura de nossos carros e
os pássaros são uma ameaça pois suas fezes queimam a pintura. Então melhor
preservar os carros do que manter os pássaros. Um completo absurdo.
Por isto temos
de defender a preservação e a criação de no mínimo uma política verde dentro de
cada município. A mudança começa em cada um se conscientizar desta importância.
Aproveito para
deixar um vídeo mostrando algumas fotos que tirei de pássaros. Sou
completamente amador em fotografia, mas o objeto importante aí é o conteúdo e
não a forma. E o conteúdo é especial: pequeninos seres voadores que podem nos
enriquecer se estivermos com olhos e ouvidos atentos. O vídeo é um pouco longo
acompanhado de música de altíssima qualidade que mencionam pássaros em suas
letras. Espero que você consiga vê-lo até o final, pois talvez este seja o começo
para recuperar algo que anda tão esquecido nos dias atuais: a contemplação.
O exercício de contemplar vai te ensinar diversas outras coisas juntas no mesmo pacote.
Leve
isto para o seu cotidiano
Leve isto para as suas relações
Leve isto para as suas
convicções
Talvez nos
tornemos tão LEVE quanto este meu amigo (Guaxe) da foto !
“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, Eles
passarão. Eu passarinho !”
Mario Quintana.
Como dito no filme o Carteiro e o Poeta, em algumas ocasiões o dono de certas frases não é o poeta e sim quem a utilizou no lugar certo na hora certa. Peço a permissão ao Quintana pois nenhuma frase definiria melhor o núcleo deste post.
Obs: Agradecimentos ao João e Adriana que disponibilizaram um excelente
livro de Johan Dalgas
Frisch para iniciar meu
conhecimento na área dos pássaros do nosso Brasil.
Às
vezes me pego pensando se eu estivesse trabalhando em São Paulo, quantas
oportunidades poderiam ser abertas, salário maior, oportunidade de viagens
internacionais, bons restaurantes para almoço, carro melhor. De quando em vez
acontecem estas crises de pensamento. Porém, hoje de manhã saio para caminhar
antes de ir ao trabalho com meu celular com as melhores músicas do mundo em
minha playlist, subo até o local onde posso caminhar olhando a serra da Mantiqueira
que em outra oportunidade já escrevi que é uma das maravilhas do mundo, vejo
pássaros como bem-te-vi, maritacas e uma coruja de prontidão em uma construção
que ela adotou como lar. Caminho, sentindo o frescor da manhã sem carros a
minha volta, sem poluição. Volto para casa para o banho, um café e dirijo ao
trabalho. Antes deixo meu filho e esposa para comprarem material escolar. Eles
voltarão a pé para casa em uma caminhada onde sequer me preocupo com relação a riscos.
Repenso: tudo isto só é possível porque escolhi ficar aqui no vale.
Este início de texto é para dar
conta de quão importante são as escolhas em nossas vidas. Talvez esteja
escrevendo sobre algo que é óbvio, mas que as vezes eu mesmo esqueço. Escolher
significa decidir e decidir nem sempre é fácil. Quando você tem que escolher
entre uma coisa boa e uma coisa ruim é tranquilo, mas na maioria das vezes
escolheremos entre duas coisas que tem vantagens e desvantagens, daí se
posicionar fica mais complexo. Isto também é óbvio. Proponho então um desafio.
Experimente pensar quantas bifurcações você já encontrou na sua vida, onde você
escolheu um caminho e deixou o outro de lado ? Experimente pegar sua vida e coloque-a
numa reta e pince pontos de escolhas importantes que fez. Este exercício não é
para lamentar as escolhas que montaram sua história até aqui. Eu acredito que o
processo decisivo divide-se em 4 partes: pensar, decidir, vivenciar e não se autoflagelar pela escolha
que não se fez. Porém, é legal saber que passamos por momentos onde nossas
escolhas fizeram completa diferença: fazer faculdade disto ou daquilo, recusar
ou aceitar uma nova proposta de trabalho, casar-se ou continuar solteiro(a), mudar-se de cidade ou continuar morando na
cidade atual, tudo isto como exemplos diversos onde a história de cada um vai
dizer. Se pensarmos bem, a alteração de uma escolha destas que identificamos
como pontuais mudaria completamente o curso de sua vida. É um exercício maluco
olhar deste ângulo. Lembro-me que em 1994, 19 anos atrás, fui escolhido para
trabalhar em uma barraca numa festa da cidade como caixa para arrecadar fundos
para a ADC da empresa que trabalhava. Fiz de tudo para não ir, pois não gostava
da ideia de ter que ficar com o dinheiro, lidar com diferenças e contabilizar
tudo. Tinha outras pessoas muito mais preparadas do que eu para aquela função. Convenhamos
que aguentar bêbados ao redor da barraca lá pela madrugada, ficar dando troco,
música de péssima qualidade e ainda ficar responsável pelo dinheiro todo da
noite não era algo atrativo. Na famigerada noite pensei em não aparecer. A decisão foi tomada numa fração de segundos,
onde escolhi ir. Lá conheci minha esposa, que nunca havia visto na cidade. Caso
eu escolhesse ficar assistindo tv... É, não dá para saber, mas é instigante
pensar nisto. Uma pequena escolha teve para mim grande influência, neste caso
para o lado bom.
Para entender um pouco mais do que
estou falando, recomendo ao leitor a assistir um filme chamado Mr.Nobody (Sr.Ninguém)
do diretor belga Jaco van Dormael. Filme
difícil de encontrar, mas de um teor filosófico fantástico. Pretendo fazer um
post sobre ele de tanto que me tocou, porém preciso assisti-lo novamente, coisa
que tá difícil por não achar. Fiquei anestesiado ao assistir esta obra prima.
Um filme de uma beleza singular e que retrata bem o que eu falo neste texto. No
filme o personagem de 118 anos é o último mortal do planeta e é escolhido para
contar sua vida numa espécie de reality show. Realidade e imaginação se
confundem e vários resultados são produzidos em suas recordações conforme seu
imaginário e suas escolhas. O princípio do filme já demonstra uma escolha
difícil onde o menino numa estação de trem tem de decidir se fica com o pai ou
viaja com a mãe no trem, pelo fato do casal ter se separado. A imagem dos
trilhos de trem em cruzamento é tocante, dizendo exatamente que as escolhas nos
levam em diversas direções. Um dos melhores filmes que assisti e não consigo classifica-lo
(drama/ficção/romance) pois quando acabou fiquei mais de meia hora sentado
pensando e tentando contextualizar o que havia visto. Fotografia maravilhosa,
atores excelentes e conteúdo que se faz pensar e muito.
Fazendo este exercício você pode
ver a dimensão de como que duas pequenas palavrinhas, Sim ou Não, puderam
exercer em sua vida. E se um sim virasse não ou um não virasse sim num destes
momentos pontuais? Nunca saberemos. Cabe apenas um pequeno exercício da
imaginação.
Decisões e escolhas sempre irão
acompanhar a vida de qualquer pessoa. Quando se usa a frase “Você é o produto
de suas escolhas” parece que estamos resumindo tudo a uma equação matemática. Eu
escolho acreditar que algumas escolhas são guiadas por um caminho que parece já
estar traçado. Olhando depois a frente parece realmente que era exatamente
assim que as coisas deveriam acontecer em sua vida. No momento da escolha você não
sente isto, mas anos a frente é possível ter esta sensação.
Continuemos o curso, escolhendo e
tomando decisões e fazendo de vez em quando o mesmo exercício feito pelo
personagem citado no filme Mr.Nobody, sem perder o teor de nossa história, sem
arrependimentos fortes que possam paralisar, pois por mais que uma escolha
tenha produzido mau resultados, sempre será tempo de escolher novos caminhos.
Qual a verdadeira medida da ganância do homem ? Até onde se pode chegar por causa dela ? Eu pensei que já tinha visto de tudo que pudesse dar-me elementos para responder a esta pergunta: destruição de recursos naturais em busca de novos negócios, utilização de mão-de-obra escrava para maximização de resultados, desvios astronômicos em instituições que deveriam prover recursos aos que mais precisam. Tudo isto me deixava indignado e sempre me perguntava qual seria o limite do ser humano quando se fala de defender o interesse próprio. Percebi que não tenho sequer um terço de condições de responder a esta pergunta depois da famigerada crise econômica gerada nos Estados Unidos que estremeceu o mundo em 2008. Bom, aos amigos que aqui passarem, dirão que estou um pouco atrasado, pois estamos em 2012 e só agora coloco um post sobre este assunto. Um dos fatos evidente é que em 2008 este blog ainda não existia. Tão evidente quanto isto é que o assunto nunca foi tão atual, pois a crise não passou. E não estou falando da crise na Europa, dos países que não fizeram a lição de casa quanto a gastos do governo. Estou falando ainda daquela crise financeira de 2008 gerada principalmente pela quebra dos bancos. Em 12/9, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, depois que as autoridades monetárias recusaram-se a resgatá-lo. No mesmo dia, o Merrill Lynch anunciou sua venda para o Bank of America. Em 15/9, a mega-seguradora AIG (a maior do mundo, até aqueles meses) anunciou que estava insolvente, sendo nacionalizada no dia seguinte com aporte estatal de US$ 85 bilhões. O governo americano com agentes financeiros infiltrados em seu staff decisório foi responsável adjunto pela crise, pois sabia dos subprimes e não interviu na origem do problema. Depois quando as coisas ficaram insustentáveis, injetou 700 bilhões de dólares (dinheiro público) para tentar coibir os efeitos, mas era tarde demais. A módica quantia não deu nem para começar a estancar o corte que se transformou em hemorragia. Com bancos falindo veio a crise de confiança onde os próprios bancos não confiavam um no outro por não saber quem mais estava “podre” e assim foi questão de tempo para a crise invadir o mundo.
Eu sinceramente passei pela crise como muitos ao redor do mundo, com muitas dificuldades. Um cenário de incerteza dormia e acordava conosco todos os dias daquele famigerado ano de 2008, talvez o ano para ser esquecido. O fato é que verificávamos as notícias através de jornais e noticiários e tentávamos entender o que ocorria. Explicações técnicas de economistas, previsões catastróficas, governantes se reunindo tentando explicar os devaneios do capitalismo. Mas deixaram de explicar apenas uma coisa que originou toda a bagunça: a ganância. O capitalismo que tanto nos parece o ideal frente a regimes fracassados como o comunismo e socialismo e outros regimes autoritários mostra seu lado perverso e indica o que todo mundo sabe: o excesso de liberdade que é a essência do capitalismo pautado pelo livre mercado age extremamente em favor da criação de bolhas produzidas pelo setor financeiro, o que leva poucas dezenas de pessoas a multiplicarem sua fortuna, gerando a crise e ganhando dinheiro com ela, porém arrebentando tudo o que tem pela frente. Você já ouviu falar de uma frase que diz que a economia é cíclica ? Se a economia é cíclica é porque a ganância é constante.
Para obter elementos e poder discorrer sobre o assunto, assisti a um documentário fantástico chamado “TRABALHO INTERNO” do diretor Charles Ferguson, o qual recomendo (encontrado em algumas locadoras). Este deveria ser um vídeo a ser passado a todos estudantes, professores e formadores de opinião ao redor domundo. Não é preciso ser economista para entender como a crise foi arquitetada meticulosamente. O documentário apresenta com muita propriedade, elementos que desatam o novelo desta construção. Apresenta sem sensacionalismo, mas com um realismo assustador, a indiferença do governo americano, as ligações perigosas entre pessoas de alto posto no governo americano e Wall Street. Talvez aqui esteja o melhor do documentário que esclarece prontamente que as pessoas de decisão econômica no governo americano foram pessoas advindas de empresas financeiras de Wall Street se transformando nos principais agentes e defensores de medidas que davam a continuidade da geração de altos lucros às instituições financeiras, mesmo sabendo que eclodiria um tsunami no mundo em pouco tempo. O documentário apresenta e nomeia os articuladores desta crise dentro e fora do governo. Vai ainda mais longe, apresentando um fato alarmante: os formadores de opiniões dentro das principais universidades dos USA como Harvard, por exemplo, estão comprados pelas instituições financeiras para influenciar os que deveriam ser nossa principal esperança de mudança de toda esta situação. Sendo assim Harvard e outras, continuarão a formar pessoas que pensam que a desregulamentação completa do setor financeiro é importante e que ninguém precisa ser fiscalizado. Isto é o princípio de liberdade pregada pelo capitalismo; qualquer intervenção reguladora retira a essência deste sistema. Assim como os reitores e principais formadores de opiniões das faculdades estão comprados para falar o que as instituições financeiras necessitam, as agências de classificação de risco também foram literalmente “adquiridas” e convocadas a prestarem notas máximas (AAA) chamado “triple A” a todas as instituições que estavam prestes a ir ao buraco. Está assim fechado o cerco: governo, agência de classificações de risco, formadores de opiniões e bancos.
O que estes caras fizeram ? Fazendo uma analogia eles venderam uma caixa de laranja com laranjas suculentas em cima e do meio para baixo, todas as laranjas estavam podres. É só questão de tempo para que se chegue as laranjas podres. A concessão maluca de crédito no setor imobiliário levou a um aquecimento no setor, fazendo com que muita gente comprasse imóveis que sequer teriam condições de pagar. Em uma ação arquitetada, os bancos pegavam estas hipotecas e encapsulavam-nas, transformando-as em produtos que foram revendidos no mercado. Resumindo, uma bomba relógio a explodir. A grosso modo foi assim criando-se uma bolha. Como os sistemas financeiros atualmente estão completamente globalizados e interligados a intoxicação foi só questão de tempo. Para entender como chegamos até aqui, recomendo que assistam ao documentário Trabalho Interno. Não se trata de um documentário apresentando uma conspiração infundada. Apenas apresenta de maneira concreta, com provas evidentes de que tudo isto foi arquitetado com conivência de todas as partes. Os banqueiros armaram uma situação tão planejada que eles agonizaram o sistema financeiro (ganhando muito dinheiro com isto) e ainda ao final, o governo (que também tem agentes nesta crise provocada) teve de saldar a dívida colocando dinheiro do contribuinte, para salvar o que seria a ruina do setor financeiro mundial.
O capitalismo gerou um monstro indomável, que se fortalece a cada dia, pois o fato é que 40% da riqueza do mundo atualmente está sendo gerada pelo setor financeiro e não por capital produtivo. Isto é perigosíssimo, pois a especulação torna-se a principal matéria-prima desta fábrica de poucos milionários em detrimento de milhões de trabalhadores sucumbentes.
A pergunta certa: Alguém foi punido por esta ganância toda ? A resposta é não. Os agentes que geraram a crise estão milionários e causaram um estrago irreparável na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. A pergunta mais certa: foi tomada alguma atitude para que uma situação como esta não se repita ? Infelizmente a resposta novamente é não. O mais preocupante é que desde a crise, nada, absolutamente nada foi feito para que se evite outro acontecimento como este. Os agentes do governo são os mesmos que estavam no auge da crise. Barack Obama reintegrou agentes responsáveis pelo problema na era Bush e o sistema financeiro continua sem regulamentação obedecendo o princípio do livre mercado e ainda pior, está mais concentrado na mão de poucos bancos.
A grande verdade é que o governo não conduz e sim é conduzido. Hoje, Wall Street manda no mundo, tendo tudo em suas mãos, comprando o que dá pela frente para continuar avançando a fortuna de poucos. Assisti uma entrevista do saudoso José Saramago onde ele enfatizava que as grandes instituições mandam no mundo e é a pura verdade. A democracia nos dá o falso poder de mudança através do voto e nós queremos acreditar nisto. Mas o fato é que somente isto não tem poder de mudar absolutamente nada, pois campanhas financiadas são cobradas, trocas de favores são cobrados, agentes e cargos de governos são comprados. Só o fato de lobista virar profissão paga, dá a real dimensão de como as coisas são de fato.
No ponto central de tudo isto encontra-se a ganância desmedida. Torna-se um jogo sem fim. Como disse Michel Douglas no filme Wall Street, “não é somente pelo dinheiro mas pelo jogo, pelo prazer de ganhar”. Infelizmente minha gente, isto está longe de ter um fim. O movimento ocupe Wall Street é uma tentativa de lutar contra este câncer, mas ainda parece um tiro de chumbinho em um dinossauro. O movimento é uma tentativa de externar a indignação dos seres humanos comuns aos que pensam estar acima do bem e do mal. Resolve ? Não sei, mas é um começo e dentre as alternativas que temos em mãos, parece-me ser a única de aplicação mais imediata.
Ao final do documentário cheguei a conclusão de que a ganância humana é incontrolável. Esta crise nunca passará e sempre retornará vestida com outra roupa, pois não é uma crise técnica apenas e sim uma crise moral, uma crise política, uma crise gerada pela ganância que nada mais é do que a escolha de caminhos obscuros para obter-se ganhos incalculáveis, independente dos estragos que serão produzidos. A ganância está em toda parte, porém nos USA que contém arsenal militar para destruir o planeta, torna-se ainda mais perigosa. Em tempos de tecnologia da informação cada vez mais avançada, de agentes econômicos cada vez mais preparados, torna-se impossível pensar que a crise não poderia ser evitada. Tudo isto gera uma sensação de impotência, pois o controle de alguns fatores de nossas vidas parecem não estar em nossas mãos.
A ganância leva a desonestidade, mata, corrói a sociedade e no mundo globalizado, o pecado de poucos se transforma na desgraça de muitos . A ganância é a mãe das guerras, da pobreza, razão pela qual milhares de pessoas sofrem todos os dias. A ganância é o maior pecado capital e nos mostra que ainda temos muito a melhorar se quisermos viver em um mundo com menores desigualdades.