sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Amor, sublime amor !


 O que falar sobre o amor ? Como saber se o conhecemos em plenitude ? 

Vou copiar a chamada da imprensa sensacionalista colocando a tarja chamativa na notícia: ATENÇÃO: IMAGENS FORTES ABAIXO. Nestes vídeos, não tem quantidade de palavras que possam explicar. Em tempos de falta de amor por completo, estes vídeos são meus alimentos. 









quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Lyle Mays e a Linguagem Universal de Comunicação !

             
               No dia 11/02/2020 fui surpreendido com a notícia de que o pianista Lyle Mays faleceu em Los Angeles por uma doença ainda não divulgada. Em primeiro lugar o lamento é pela morte de um ser humano. Apesar de nunca ter falado com Lyle Mays em linguagem verbal, ele soa como uma pessoa que conhecia há muito tempo. E o sentimento é de que um amigo de tempos tenha partido. Lyle Mays falou e se comunicou comigo durante muitos anos através da música, da linguagem universal da música. Para mim, ele é o melhor pianista, arranjador e tecladista que eu já vi. E ele faz a música que eu gostaria de ouvir, exatamente com as harmonias que gosto de ouvir. Nesta linguagem musical que nos comunicamos, recebi exatamente tudo que precisava de uma pessoa que sequer tem ideia dos benefícios que me causou. Somente a linguagem artística é capaz de produzir tais sentimentos, a ponto de parecer hoje, que um ente querido se foi. E quando isto acontece, um pedacinho da gente se dissolve também.
               Fica até difícil explicar, mas o jeito que Lyle Mays coloca as notas no piano nas músicas que toca, transforma e leva a composição para outro nível. Ele é capaz de produzir notas em tom maior ou menor, que entram dentro de nossas veias, atingem a alma, produzindo uma sensação de prazer indescritível. Tivemos a sorte de três gênios da música se juntarem no mesmo grupo: Lyle Mays, Pat Metheny e Steve Rodby. Eles levaram a música instrumental a ter alcance intercontinental, com  turnê de classe mundial, assim como um grupo pop como U2. Isto era praticamente impossível antes do Pat Metheny Group que arrebatou fãs pelo mundo inteiro. E um dos pilares deste grupo foi Lyle Mays, que emprestou sua genialidade nas composições do grupo, além de desenvolver também discos solos maravilhosos durante todos estes anos.
               O importante nisto tudo é que Lyle Mays continuará falando comigo mesmo depois de ter partido pois todos os dias eu escuto uma participação sua em alguma música de minha playlist. Não tem outra forma mais efetiva de imortalidade. Lyle Mays alcançou algo que todos nós queremos. E esta música universal já está com meu filho, que provavelmente passará aos meus netos, que passarão aos seus.
               Como vale muito enfatizar, seremos lembrados pelas nossas obras. Nem sei qual carro Lyle Mays tem, em qual casa mora, nem sua conta bancária, mas na minha opinião, estou em seu testamento, pois deixou sua obra musical inteira para que possa continuar sentindo o que somente a música pode provocar. Lyle Mays deixou o que ele tinha de melhor para mim.
               Se você não conhece ainda a obra deste artista genial, pesquise. Gosto é subjetivo, mas genialidade é universal e Lyle Mays é um gênio da música.
Que muitas notas musicais continuem a soar deste pianista genial chamado Lyle Mays.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020


INTENSIDADE

Fazia tempo que eu não via a materialização efetiva da felicidade de maneira tão explicita como presenciei há alguns dias. Apesar de ser um elemento cada vez mais escasso e quando aparece se apresenta com formatos variados no cotidiano, percebi que perdemos com o tempo a capacidade de saber sentir o que é ser e estar feliz. A grande professora desta preciosa lição gratuita recebida em dose integral, desta vez, foi minha adorável e intensa filha Júlia. Adorável e intensa porque ela transita entre estes dois elementos com a maior facilidade e consegue ser intensa sendo adorável. Não erra em nenhuma das duas medidas.
Viajamos em família há poucos dias para nosso lugar de direito aqui na terra, que nomeamos como nosso, sem precisar lavrar escritura em cartório e a pequenina menina de quatro anos mostrou, escancarou e emprestou a todos nós a empolgação de se encontrar em perfeito estado de felicidade plena de forma intensa. E isto é tão contagiante que pega, te envolve e te transforma; a capacidade de uma pessoa de 1,10m pelo seu sentimento transformar os que estão ao seu redor. Eu estava feliz por estar onde queria estar, com quem queria estar mas nem de perto cheguei ao que esta pequenina sentia. E ela me transformou, nos transformou e ensinou uma lição básica: é possível contagiar e ensinar apenas pela forma de sentir as coisas, de irradiar o que se sente por dentro sendo INTENSA. Esta é a palavra.
Cada minuto que ficamos nestes dias neste nosso lugar foram completamente intensos. Toda e qualquer atividade perto dela tem a intensidade que a felicidade em estar vivenciando aquilo tudo provoca. Nos dias atuais a classificariam talvez como “hiper-ativa” ou sei lá qual rótulo se colocaria ali. Não se pode confundir má educação e chatice como hiperatividade. A Júlia é intensa, mas muito educada e sensível, colaborativa e completamente compreensível e obediente. Juro não ser ótica de pai. Como pode tudo isto na mesma criança ? Mas não tente ser morno perto dela. Não tente entregar algo mais ou menos a ela que isto não será aceito, a ponto dela exigir o seu melhor e transformar sua atitude. E nesta exigência da entrega total, ela sempre vence, sem birra, sem chatice, sem gritos, sem má educação, mas com a persistência da exigência que os intensos tem como característica.
A intensidade. Como esta palavra está distante. E ela precisava voltar ao cerne da nossa vida. Quando se faz algo com pouca vontade, sem intensidade, Deus não abençoa e as coisas não acontecem. Sempre usei este mantra como estilo de vida, mas não esperava ver tão intensamente isto se materializando em uma criança. Júlia define muito rapidamente o que quer, tem uma convicção que vi em poucas pessoas e quando ela consegue vender sua ideia para que um fato aconteça e isto te envolve junto na empreitada então pense antes de aceitar pois ela já definiu a intensidade do projeto. E não é assim que deveria ser nossas atitudes na vida ? Aceitar somente aquilo que iremos entregar completamente e não dizer diversos sim pela metade.
Com a Júlia os simples fatos de tomar um sorvete, assistir um filme tem lá sua intensidade. Assistir a um desenho com ela é presenciar a pequenina incorporar o personagem e na maior parte das vezes, ela exige que você também seja um dos personagens. É assim, intenso. Não tente assistir ao desenho lendo mensagem no celular, falando ao telefone ou conversando com outra pessoa. Isto é o pacote pela metade. E ela exige o todo. E não te dará sossego até você cumprir com o combinado, tudo de forma educada, clássica e intensa até você se render ao que precisa ser feito. Sublime convicção.
A intensidade dela têm relação com as coisas simples e importante. Sinto nela a vida, a vontade de vivenciar o belo, sem trocas, sem distrações desnecessárias.
Acredito que todos nós precisamos aprender com ela uma lição que como adulto as vezes deixamos pelo caminho. Seja intenso naquilo em que colocar a mão, seja na área sentimental, profissional, nas relações. Isto é libertador. Mesmo que dê errado, que sofra decepções, que não seja valorizado (valor é a gente que se dá em primeiro lugar) mas seja intenso. Fazer qualquer coisa sem intensidade é perder vida, é sofrer diante da sua consciência e seguindo o mantra, Deus não abençoa.
Quer saber mais sobre intensidade ? Olhe para a foto abaixo da esquerda para a direita e veja este sorrisinho maravilhoso.


sábado, 18 de junho de 2016

Apenas a cachorra !

Tão difícil escrever como necessário.

 Hoje é um dia que estou provando a dor do amor. Em todo tempo que moro na minha atual casa, hoje especificamente está sendo o dia mais difícil de voltar para lá. Uma sexta-feira que para mim segue fria e cinzenta diante da imensa perda que este dia me trouxe: foi embora a July minha cachorra. Muitos pensarão: era apenas uma cachorra! July não era apenas uma cachorra. July era a forma mais concreta de personificar a palavra amizade. Escrevo neste momento para tão somente selar meu amor por este ser, fato que talvez eu não consiga descrever nas próximas linhas.
                July era a expressão do amor. Foi um dos seres vivos que mais me ensinou sobre amor. Não consigo classificar o grau de relevância desta pequenina que tanto se dedicou a uma família quanto minha adorada July.  Chegou à minha casa no ano de 2000, ano em que eu me casei. Acompanhou todos os fatos importantes de nossas vidas até aqui. Ensinou-me, junto com seu companheiro Toquinho, elementos que foram me construindo para tornar-me futuramente pai e chefe de família. Foi com ela que aprendi que cuidar vai muito além de por água e ração todo dia. Foi com ela que aprendi muitas lições das quais coloco em prática atualmente principalmente no que tange a resiliência. Estando ao nosso lado todo este tempo presenciou os melhores e piores momentos deste ciclo e nunca deu um passo em falso na sua principal especialidade:  amar. Sim, muitas vezes um cachorro te ensina muito mais que alguns seres humanos;  o amor que ela trazia era muito maior que as travessuras que ela aprontava; ensinou-me o que é se dedicar a alguém e como amar deve ser um exercício de todos os dias independente do que você receba em troca. 
                July acompanhou desde o início a construção da minha família. Muitas vezes foi minha companheira nos momentos de solidão a dois. Nos momentos de preocupação, parecia ler meus pensamentos e o simples fato de recostar sua cabeça em minhas pernas, conseguia me acalmar. Assistiu ao nascimento do José Renato e da Júlia e acolheu aos dois como se fossem seus. Aqui tenho algumas considerações. July era de uma inteligência singular. Tinha uma relação de cumplicidade com o José Renato. Ela dormia na sala e como nossa casa é um sobrado e os quartos ficam em cima existia uma separação durante as noites que ela não se conformava. A escada era um hífen entre ela e o José Renato e para ela uma correção ortográfica era necessária para unificação. A noite todos nós subíamos e naturalmente o José Renato dormia antes (ainda não tínhamos a Júlia). Eu e a Erika ainda atentos, escutávamos os passinhos na ponta da pata tentando subir sem ser notada, para pular na cama do José Renato e dormir com ele. Sempre dávamos bronca e ela voltava do meio da escada toda triste e se mostrando inconformada. Ela esperava eu e a Erika dormir e subia e se ajeitava junto ao José que acordava, ficava quietinho e ainda abraçava a danadinha com direito a coberta e travesseiro. Pela manhã ao adentrar o quarto encontrava os dois cumplices de um crime em favor do amor, onde somente uma criança e uma cachorrinha são capazes de produzir em sua pureza de coração. Estavam lá os dois dormindo que dava até pena de acordá-los. Isto aconteceu enquanto ela teve forças para subir as escadas.
Com a Júlia a questão foi diferente. A Júlia já nasceu apaixonada pela July, pelo menos esta é a nossa sensação. Desde os dois meses, a Júlia tinha uma loucura de paixão pela July que eu nunca vi em lugar algum. Acho que as duas já sabiam o que uma significava para a outra. Com dois meses a maior alegria da Julia era ficar perto da July e a simples separação causava chora na pequenina que demorava a se distrair com outra coisa.
                Tenho várias lembranças boas dela. Quando eu acordava ela era a primeira a vir ficar ao meu lado e assim permanecia até minha saída. Acompanhava-me todas as manhãs como se fosse um ritual.  Lembro-me principalmente de suas crias. Foram três no total, sendo cada uma gerando seis ou mais cachorrinhos. Em todos os trabalhos de parto eu participei, durante a madrugada ajudando a retirar seus filhotes. Sentia que ela ficava muito confiante quando eu estava com ela e nosso amor ia crescendo um pelo outro.
Uma de suas traquinagens preferidas  era sair correndo para a rua quando alguém abria o portão. Quantas vezes saí correndo atrás dela para pegá-la seis quarteirões à frente. Quando eu estava quase perto de pegá-la ela aprontava uma correria maior ainda, o que me tirava um pouco do sério, mas nada a ponto de desistir dela, pois sabia que ela tinha muito valor para mim.  Um dia, fomos ao pátio da Basílica e quando a soltamos ela aprontou uma correria que nem eu, nem o José Renato nem a Erika, demos conta de impedir. Já estava anoitecendo e neste dia meu coração gelou pensando que iria perdê-la. Uma turista a segurou e veio procurando o dono. Alívio dela e nosso!
                Nos últimos anos infelizmente ela começou a ter problemas de saúde. Quando a Erika estava grávida da Júlia, ela teve um problema que a impedia de levantar as duas patas traseira. O movimento só foi recuperado depois de um confinamento de 50 dias em pouco espaço para evitar qualquer movimento brusco. Foram dias difíceis para ela e para nós. Mas nossa pequena July se recuperou, com alguns problemas, mas voltou a andar e a participar ativamente de nossas vidas. Só não conseguia mais subir as escadas.
                No último mês, July sofreu um problema que a fez perder o equilíbrio, caindo diversas vezes e impedindo de se movimentar. O problema se agravou de tal maneira que ela parou de comer, parou de ingerir até líquido.  Tudo isto nos levou a ter de tomar a decisão mais dura de nossas vidas até o momento. July se foi numa manhã fria que congelou nossos corações.
                O que fica de tudo isto ? Fica o amor que continua apesar de não tê-la mais em nossa companhia. Enquanto eu viver, July viverá, enquanto todos nós estivermos aqui nesta casa, July estará mais viva do que nunca. Lembrando um pouco de todos estes fatos tenho a sincera convicção de que apesar da tristeza ser profunda a alegria que July deixou em nós é muito maior.  Sinto muito por perder sua doce convivência.  O quintal perdeu um pouco de sua magia e nós ganhamos nestes anos aqueles presentes que a vida nos dá nesta nossa rápida trajetória por aqui.

                Eterno amor a pequenina July ! 











quinta-feira, 9 de abril de 2015

PASSARIM

Em meus passeios com meu filho, lembro-me dele sempre fazer uma pergunta: “Pai, se você fosse um bicho, que bicho seria ? “. Respondia a ele, não sei se consciente ou inconscientemente: “um pássaro”.  Diversas vezes feita a pergunta e diversas vezes a mesma resposta. Nem sei bem o porquê desta resposta. Uma possível explicação venha dos seguintes fatos:

Pássaros pela habilidade de voar, talvez representem a máxima expressão de liberdade que um ser exerce. O limite é o infinito. Liberdade talvez seja a coisa mais sonhada por qualquer pessoa inclusive por mim. A palavra liberdade muito me atrai. Entenda-se aí a amplitude da palavra liberdade. Nós seres humanos estamos longe da liberdade pelo próprio regime de vida em que nos metemos. A liberdade da expressão, a liberdade financeira, a liberdade intelectual, a liberdade psicológica, a liberdade do tempo, a liberdade de criação, a liberdade da confiança, a liberdade religiosa em diversas partes do mundo, a liberdade roubada em alguns pontos do planeta pelo simples fato de nascer mulher, a liberdade em diversos sentidos.  Sempre estamos condicionados à algum limitante dentro deste conceito mais amplo de ser livre, seja por questões diretas ou indiretas, que se fazem necessários a adaptação de uma vida humana em sociedade nos tempos em que seguimos. Hoje a liberdade tem de ser aplicada principalmente dentro de seu pensamento, fugindo das correntes invisíveis que por vezes nos são atribuídas. Pássaros decididamente não são assim. Só se furtam de sua liberdade se for pelas mãos do homem que ainda acha que em gaiola se cultiva alguma relação com algum ser. Nós humanos nos furtamos de nossa liberdade por infinitos motivos dos quais talvez necessitem de discussão em outro post pelo tamanho do assunto que isto demandaria.

A outra lógica para a resposta “pássaro”, segue a linha de que desde pequeno, gosto muito de contemplar e interagir com bichos. Em especial sempre gostei muito de pássaros. Quando eu era criança, qualquer filhote de pardal que caía e que ainda não conseguia voar era objeto de meus cuidados em caixas de sapatos personalizadas, almofadadas, devidamente forradas; seguia-se a isto, tentativas de alimentá-los para tentar recuperar o bichinho e devolvê-lo a natureza. Sempre tive admiração por este ser pequenino, que oferece um encantamento único para quem consegue exercer o poder da contemplação. Em áreas mais arborizadas sempre gostei de escutar os vários sons produzidos por estas admiráveis criaturas. Quando estou caminhando em lugares mais arborizados escuto os mais diversos sons. Como pássaros são musicais e música corre em minhas veias, talvez esteja aí mais um motivo para o nosso entendimento.

              Um dia, passeando pelo parque das águas em Caxambu, escutei o canto de um pássaro que era a coisa mais linda do mundo. Não consegui identificar o dono daquela poderosa e curta melodia, mas fiquei encantado. Criei o projeto dentro da minha cabeça: “cantos em todos os cantos”. Significa aguçar os ouvidos para o que normalmente não percebemos. Desde então, procuro escutar todos os cantos possíveis de pássaros onde eu estiver. Seja na cidade ou em áreas mais específicas eles estão cantando e eu estou pronto para perceber. Como disse uma vez quando escrevi sobre a serra da Mantiqueira, tudo está aí, nós é que perdemos o poder de notar. Para mim como músico que toca um instrumento de ouvido, não foi tão difícil no sentido da escuta, mas é complexo quando se diz em desligar de outros pensamentos e estar inteiro com você mesmo naquele momento, naquele lugar. Trazendo para efeitos práticos, quando estou caminhando, ao invés de meu pensamento (esta fera indomável) caminhar fora do percurso que estou fazendo, ele me acompanha concentrado nos sons emitidos pelo caminho. E funciona muito. Esta é minha técnica de meditação. Minha alma fica junto com meu corpo.
              Com o projeto cantos em todos os cantos já em andamento dentro da minha cabeça, decidi dar um novo passo. Fui em direção a registrar estas criaturas maravilhosas. Minha missão então começa em fotografar os pássaros.  Descobri algo muito legal, pois aí sim verifiquei que estava ali complementando outros pontos fundamentais: concentração, paciência, gratidão, contemplação e espiritualidade. Nunca pensei que o simples fato de sair a fotografar pássaros me traria todos estes benefícios. Bom ressaltar que só fotografo pássaros soltos na natureza.
Começou aí um processo de aprendizagem. Através dos pássaros estou me conhecendo melhor, podendo me interiorizar em cada investida no sentido deste propósito. Este é o meu processo de meditação e interiorização desde então. Confesso que não conheço nada ou quase nada de fotografia. Ganhei uma câmera da minha esposa e estou ainda no início. Este início está me fazendo tão bem que não pretendo mais parar. Meu filho está seguindo o mesmo caminho e já estamos fazendo algumas investidas em dupla.
O processo de fotografar pássaros é muito interessante. Acredito que alguns pássaros até sabem que estão sendo fotografados. Tenho uma cena com um bem-te-vi que está na foto aqui no blog que indica exatamente isto. Ele pousou na minha frente e voava de volta fugindo. Vinha e voltava. Fiquei parado no mesmo local. Minha máquina não estava com zoom aplicado. Fiquei minutos a fio parado tentando fazer com que o candidato a um registro pegasse confiança. E a confiança se estabeleceu. Eu o fotografei com a máquina e ele me fotografou com este olhar aí que você vê na foto.






Um outro momento que gostei muito foi quando saí para caminhar com meu filho e dei de cara com diversas andorinhas na rua da minha casa. Elas estavam dispostas em fios que pareciam as linhas de uma pauta musical; as andorinhas pareciam ali as notas de uma pauta criando um som imaginário na minha cabeça.



Neste mesmo dia mais a frente, verifiquei uma placa de trânsito indicando PARE. Quando cheguei mais perto vi que alguém havia complementado a placa com um “não PARE de sonhar”! E em frente a esta placa observei dezenas de andorinhas nos fios. Cenário ideal para uma foto dizendo tudo que acredito. Tempo meio nublado a frente dizendo que vem tempestade, mas que as andorinhas ali dispostas conseguiriam enfrentá-la em busca do sonho de continuar vivendo e ver o sol ou as estrelas que viriam logo a seguir.



Quando vejo uma criatura pequenina como um pássaro desfilar sua leveza no ar, fica a pergunta de qual criatura realmente é mais frágil: o homem ou um pássaro ? E a beleza incontestável de suas cores e cantos ?






          Normalmente o homem influencia a vida dos pássaros por sua burrice em maltratar a natureza, provocar desmatamento e mais recentemente acabar com a água. Este é o mais comum. Comigo está acontecendo completamente ao contrário. Os pássaros estão influenciando minha vida. E assim deveria ser com todos. Começo a achar absurdo porque não existem políticas públicas voltadas a incentivar a volta de pássaros para as nossas cidades como diz o ornitólogo Johan Dalgas Frisch. Segundo ele, o simples fato de plantar árvores frutíferas, árvores ricas em conteúdo para que pudessem se alimentar, traria de volta os sabiás, beija-flores e outras espécies aos nossos quintais e portas. Em minha cidade eu comento que não se pode ver uma árvore que a prefeitura tem vontade de derrubar. Fico maluco com tais atitudes. Na vida moderna, empreendimentos são necessários. Não sou contra, mas as aprovações deveriam levar em conta e condicionar a uma criação de uma pequena parcela de área verde em contrapartida.  Um exemplo desta idiotice aconteceu perto de mim. Em meio a maior avenida de minha cidade havia uma separação de duas avenidas com diversas árvores plantadas em um canteiro central há tempos. A necessidade de colocar mais pontos de comércio para esvaziar uma outra região (que cresceu desordenadamente através da permissividade descontrolada do poder público)  disparou uma ordem estúpida de simplesmente desaparecer com tal canteiro central, levando embora todas as árvores. Não existiu contrapartida, não foi feito nenhuma compensação a respeito. Todas as árvores foram embora.  Com elas os pássaros dali tiveram de migrar para outro local. Talvez queiramos mais preservar a pintura de nossos carros e os pássaros são uma ameaça pois suas fezes queimam a pintura. Então melhor preservar os carros do que manter os pássaros. Um completo absurdo.
Por isto temos de defender a preservação e a criação de no mínimo uma política verde dentro de cada município. A mudança começa em cada um se conscientizar desta importância.

Aproveito para deixar um vídeo mostrando algumas fotos que tirei de pássaros. Sou completamente amador em fotografia, mas o objeto importante aí é o conteúdo e não a forma. E o conteúdo é especial: pequeninos seres voadores que podem nos enriquecer se estivermos com olhos e ouvidos atentos. O vídeo é um pouco longo acompanhado de música de altíssima qualidade que mencionam pássaros em suas letras. Espero que você consiga vê-lo até o final, pois talvez este seja o começo para recuperar algo que anda tão esquecido nos dias atuais: a contemplação.





 O exercício de contemplar vai te ensinar diversas outras coisas juntas no mesmo pacote. 

Leve isto para o seu cotidiano

              Leve isto para as suas relações

                            Leve isto para as suas convicções

Talvez nos tornemos tão LEVE quanto este meu amigo (Guaxe) da foto !



“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, Eles passarão. Eu passarinho !”  Mario Quintana. 

Como dito no filme o Carteiro e o Poeta, em algumas ocasiões o dono de certas frases não é o poeta e sim quem a utilizou no lugar certo na hora certa. Peço a permissão ao Quintana pois nenhuma frase definiria melhor o núcleo deste post.


Obs: Agradecimentos ao João e Adriana que disponibilizaram um excelente livro de Johan Dalgas Frisch para iniciar meu conhecimento na área dos pássaros do nosso Brasil.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ESCOLHAS

              Às vezes me pego pensando se eu estivesse trabalhando em São Paulo, quantas oportunidades poderiam ser abertas, salário maior, oportunidade de viagens internacionais, bons restaurantes para almoço, carro melhor. De quando em vez acontecem estas crises de pensamento. Porém, hoje de manhã saio para caminhar antes de ir ao trabalho com meu celular com as melhores músicas do mundo em minha playlist, subo até o local onde posso caminhar olhando a serra da Mantiqueira que em outra oportunidade já escrevi que é uma das maravilhas do mundo, vejo pássaros como bem-te-vi, maritacas e uma coruja de prontidão em uma construção que ela adotou como lar. Caminho, sentindo o frescor da manhã sem carros a minha volta, sem poluição. Volto para casa para o banho, um café e dirijo ao trabalho. Antes deixo meu filho e esposa para comprarem material escolar. Eles voltarão a pé para casa em uma caminhada onde sequer me preocupo com relação a riscos. Repenso: tudo isto só é possível porque escolhi ficar aqui no vale.
              Este início de texto é para dar conta de quão importante são as escolhas em nossas vidas. Talvez esteja escrevendo sobre algo que é óbvio, mas que as vezes eu mesmo esqueço. Escolher significa decidir e decidir nem sempre é fácil. Quando você tem que escolher entre uma coisa boa e uma coisa ruim é tranquilo, mas na maioria das vezes escolheremos entre duas coisas que tem vantagens e desvantagens, daí se posicionar fica mais complexo. Isto também é óbvio. Proponho então um desafio. Experimente pensar quantas bifurcações você já encontrou na sua vida, onde você escolheu um caminho e deixou o outro de lado ? Experimente pegar sua vida e coloque-a numa reta e pince pontos de escolhas importantes que fez. Este exercício não é para lamentar as escolhas que montaram sua história até aqui. Eu acredito que o processo decisivo divide-se em 4 partes: pensar, decidir, vivenciar e não se autoflagelar pela escolha que não se fez. Porém, é legal saber que passamos por momentos onde nossas escolhas fizeram completa diferença: fazer faculdade disto ou daquilo, recusar ou aceitar uma nova proposta de trabalho, casar-se ou continuar solteiro(a),  mudar-se de cidade ou continuar morando na cidade atual, tudo isto como exemplos diversos onde a história de cada um vai dizer. Se pensarmos bem, a alteração de uma escolha destas que identificamos como pontuais mudaria completamente o curso de sua vida. É um exercício maluco olhar deste ângulo. Lembro-me que em 1994, 19 anos atrás, fui escolhido para trabalhar em uma barraca numa festa da cidade como caixa para arrecadar fundos para a ADC da empresa que trabalhava. Fiz de tudo para não ir, pois não gostava da ideia de ter que ficar com o dinheiro, lidar com diferenças e contabilizar tudo. Tinha outras pessoas muito mais preparadas do que eu para aquela função. Convenhamos que aguentar bêbados ao redor da barraca lá pela madrugada, ficar dando troco, música de péssima qualidade e ainda ficar responsável pelo dinheiro todo da noite não era algo atrativo. Na famigerada noite pensei em não aparecer.  A decisão foi tomada numa fração de segundos, onde escolhi ir. Lá conheci minha esposa, que nunca havia visto na cidade. Caso eu escolhesse ficar assistindo tv... É, não dá para saber, mas é instigante pensar nisto. Uma pequena escolha teve para mim grande influência, neste caso para o lado bom.
              Para entender um pouco mais do que estou falando, recomendo ao leitor a assistir um filme chamado Mr.Nobody (Sr.Ninguém) do diretor belga Jaco van Dormael. Filme difícil de encontrar, mas de um teor filosófico fantástico. Pretendo fazer um post sobre ele de tanto que me tocou, porém preciso assisti-lo novamente, coisa que tá difícil por não achar. Fiquei anestesiado ao assistir esta obra prima. Um filme de uma beleza singular e que retrata bem o que eu falo neste texto. No filme o personagem de 118 anos é o último mortal do planeta e é escolhido para contar sua vida numa espécie de reality show. Realidade e imaginação se confundem e vários resultados são produzidos em suas recordações conforme seu imaginário e suas escolhas. O princípio do filme já demonstra uma escolha difícil onde o menino numa estação de trem tem de decidir se fica com o pai ou viaja com a mãe no trem, pelo fato do casal ter se separado. A imagem dos trilhos de trem em cruzamento é tocante, dizendo exatamente que as escolhas nos levam em diversas direções. Um dos melhores filmes que assisti e não consigo classifica-lo (drama/ficção/romance) pois quando acabou fiquei mais de meia hora sentado pensando e tentando contextualizar o que havia visto. Fotografia maravilhosa, atores excelentes e conteúdo que se faz pensar e muito.  
              Fazendo este exercício você pode ver a dimensão de como que duas pequenas palavrinhas, Sim ou Não, puderam exercer em sua vida. E se um sim virasse não ou um não virasse sim num destes momentos pontuais? Nunca saberemos. Cabe apenas um pequeno exercício da imaginação.
              Decisões e escolhas sempre irão acompanhar a vida de qualquer pessoa. Quando se usa a frase “Você é o produto de suas escolhas” parece que estamos resumindo tudo a uma equação matemática. Eu escolho acreditar que algumas escolhas são guiadas por um caminho que parece já estar traçado. Olhando depois a frente parece realmente que era exatamente assim que as coisas deveriam acontecer em sua vida. No momento da escolha você não sente isto, mas anos a frente é possível ter esta sensação.

              Continuemos o curso, escolhendo e tomando decisões e fazendo de vez em quando o mesmo exercício feito pelo personagem citado no filme Mr.Nobody, sem perder o teor de nossa história, sem arrependimentos fortes que possam paralisar, pois por mais que uma escolha tenha produzido mau resultados, sempre será tempo de escolher novos caminhos.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Crise

Qual a verdadeira medida da ganância do homem ? Até onde se pode chegar por causa dela ? Eu pensei que já tinha visto de tudo que pudesse dar-me elementos para responder a esta pergunta: destruição de recursos naturais em busca de novos negócios, utilização de mão-de-obra escrava para maximização de resultados, desvios astronômicos em instituições que deveriam prover recursos aos que mais precisam. Tudo isto me deixava indignado e sempre me perguntava qual seria o limite do ser humano quando se fala de defender o interesse próprio. Percebi que não tenho sequer um terço de condições de responder a esta pergunta depois da famigerada crise econômica gerada nos Estados Unidos que estremeceu o mundo em 2008. Bom, aos amigos que aqui passarem, dirão que estou um pouco atrasado, pois estamos em 2012 e só agora coloco um post sobre este assunto. Um dos fatos evidente é que em 2008 este blog ainda não existia. Tão evidente quanto isto é que o assunto nunca foi tão atual, pois a crise não passou. E não estou falando da crise na Europa, dos países que não fizeram a lição de casa quanto a gastos do governo. Estou falando ainda daquela crise financeira de 2008 gerada principalmente pela quebra dos bancos. Em 12/9, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, depois que as autoridades monetárias recusaram-se a resgatá-lo. No mesmo dia, o Merrill Lynch anunciou sua venda para o Bank of America. Em 15/9, a mega-seguradora AIG (a maior do mundo, até aqueles meses) anunciou que estava insolvente, sendo nacionalizada no dia seguinte com aporte estatal de US$ 85 bilhões. O governo americano com agentes financeiros infiltrados em seu staff decisório foi responsável adjunto pela crise, pois sabia dos subprimes e não interviu na origem do problema. Depois quando as coisas ficaram insustentáveis, injetou 700 bilhões de dólares (dinheiro público) para tentar coibir os efeitos, mas era tarde demais. A módica quantia não deu nem para começar a estancar o corte que se transformou em hemorragia. Com bancos falindo veio a crise de confiança onde os próprios bancos não confiavam um no outro por não saber quem mais estava “podre” e assim foi questão de tempo para a crise invadir o mundo.

Eu sinceramente passei pela crise como muitos ao redor do mundo, com muitas dificuldades. Um cenário de incerteza dormia e acordava conosco todos os dias daquele famigerado ano de 2008, talvez o ano para ser esquecido. O fato é que verificávamos as notícias através de jornais e noticiários e tentávamos entender o que ocorria. Explicações técnicas de economistas, previsões catastróficas, governantes se reunindo tentando explicar os devaneios do capitalismo. Mas deixaram de explicar apenas uma coisa que originou toda a bagunça: a ganância. O capitalismo que tanto nos parece o ideal frente a regimes fracassados como o comunismo e socialismo e outros regimes autoritários mostra seu lado perverso e indica o que todo mundo sabe: o excesso de liberdade que é a essência do capitalismo pautado pelo livre mercado age extremamente em favor da criação de bolhas produzidas pelo setor financeiro, o que leva poucas dezenas de pessoas a multiplicarem sua fortuna, gerando a crise e ganhando dinheiro com ela, porém arrebentando tudo o que tem pela frente. Você já ouviu falar de uma frase que diz que a economia é cíclica ? Se a economia é cíclica é porque a ganância é constante.

Para obter elementos e poder discorrer sobre o assunto, assisti a um documentário fantástico chamado “TRABALHO INTERNO” do diretor Charles Ferguson, o qual recomendo (encontrado em algumas locadoras). Este deveria ser um vídeo a ser passado a todos estudantes, professores e formadores de opinião ao redor do mundo. Não é preciso ser economista para entender como a crise foi arquitetada meticulosamente. O documentário apresenta com muita propriedade, elementos que desatam o novelo desta construção. Apresenta sem sensacionalismo, mas com um realismo assustador, a indiferença do governo americano, as ligações perigosas entre pessoas de alto posto no governo americano e Wall Street. Talvez aqui esteja o melhor do documentário que esclarece prontamente que as pessoas de decisão econômica no governo americano foram pessoas advindas de empresas financeiras de Wall Street se transformando nos principais agentes e defensores de medidas que davam a continuidade da geração de altos lucros às instituições financeiras, mesmo sabendo que eclodiria um tsunami no mundo em pouco tempo. O documentário apresenta e nomeia os articuladores desta crise dentro e fora do governo. Vai ainda mais longe, apresentando um fato alarmante: os formadores de opiniões dentro das principais universidades dos USA como Harvard, por exemplo, estão comprados pelas instituições financeiras para influenciar os que deveriam ser nossa principal esperança de mudança de toda esta situação. Sendo assim Harvard e outras, continuarão a formar pessoas que pensam que a desregulamentação completa do setor financeiro é importante e que ninguém precisa ser fiscalizado. Isto é o princípio de liberdade pregada pelo capitalismo; qualquer intervenção reguladora retira a essência deste sistema. Assim como os reitores e principais formadores de opiniões das faculdades estão comprados para falar o que as instituições financeiras necessitam, as agências de classificação de risco também foram literalmente “adquiridas” e convocadas a prestarem notas máximas (AAA) chamado “triple A” a todas as instituições que estavam prestes a ir ao buraco. Está assim fechado o cerco: governo, agência de classificações de risco, formadores de opiniões e bancos.

O que estes caras fizeram ? Fazendo uma analogia eles venderam uma caixa de laranja com laranjas suculentas em cima e do meio para baixo, todas as laranjas estavam podres. É só questão de tempo para que se chegue as laranjas podres. A concessão maluca de crédito no setor imobiliário levou a um aquecimento no setor, fazendo com que muita gente comprasse imóveis que sequer teriam condições de pagar. Em uma ação arquitetada, os bancos pegavam estas hipotecas e encapsulavam-nas, transformando-as em produtos que foram revendidos no mercado. Resumindo, uma bomba relógio a explodir. A grosso modo foi assim criando-se uma bolha. Como os sistemas financeiros atualmente estão completamente globalizados e interligados a intoxicação foi só questão de tempo. Para entender como chegamos até aqui, recomendo que assistam ao documentário Trabalho Interno. Não se trata de um documentário apresentando uma conspiração infundada. Apenas apresenta de maneira concreta, com provas evidentes de que tudo isto foi arquitetado com conivência de todas as partes. Os banqueiros armaram uma situação tão planejada que eles agonizaram o sistema financeiro (ganhando muito dinheiro com isto) e ainda ao final, o governo (que também tem agentes nesta crise provocada) teve de saldar a dívida colocando dinheiro do contribuinte, para salvar o que seria a ruina do setor financeiro mundial.

O capitalismo gerou um monstro indomável, que se fortalece a cada dia, pois o fato é que 40% da riqueza do mundo atualmente está sendo gerada pelo setor financeiro e não por capital produtivo. Isto é perigosíssimo, pois a especulação torna-se a principal matéria-prima desta fábrica de poucos milionários em detrimento de milhões de trabalhadores sucumbentes.

A pergunta certa: Alguém foi punido por esta ganância toda ? A resposta é não. Os agentes que geraram a crise estão milionários e causaram um estrago irreparável na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. A pergunta mais certa: foi tomada alguma atitude para que uma situação como esta não se repita ? Infelizmente a resposta novamente é não. O mais preocupante é que desde a crise, nada, absolutamente nada foi feito para que se evite outro acontecimento como este. Os agentes do governo são os mesmos que estavam no auge da crise. Barack Obama reintegrou agentes responsáveis pelo problema na era Bush e o sistema financeiro continua sem regulamentação obedecendo o princípio do livre mercado e ainda pior, está mais concentrado na mão de poucos bancos.

A grande verdade é que o governo não conduz e sim é conduzido. Hoje, Wall Street manda no mundo, tendo tudo em suas mãos, comprando o que dá pela frente para continuar avançando a fortuna de poucos. Assisti uma entrevista do saudoso José Saramago onde ele enfatizava que as grandes instituições mandam no mundo e é a pura verdade. A democracia nos dá o falso poder de mudança através do voto e nós queremos acreditar nisto. Mas o fato é que somente isto não tem poder de mudar absolutamente nada, pois campanhas financiadas são cobradas, trocas de favores são cobrados, agentes e cargos de governos são comprados. Só o fato de lobista virar profissão paga, dá a real dimensão de como as coisas são de fato.

No ponto central de tudo isto encontra-se a ganância desmedida. Torna-se um jogo sem fim. Como disse Michel Douglas no filme Wall Street, “não é somente pelo dinheiro mas pelo jogo, pelo prazer de ganhar”. Infelizmente minha gente, isto está longe de ter um fim. O movimento ocupe Wall Street é uma tentativa de lutar contra este câncer, mas ainda parece um tiro de chumbinho em um dinossauro. O movimento é uma tentativa de externar a indignação dos seres humanos comuns aos que pensam estar acima do bem e do mal. Resolve ? Não sei, mas é um começo e dentre as alternativas que temos em mãos, parece-me ser a única de aplicação mais imediata.

Ao final do documentário cheguei a conclusão de que a ganância humana é incontrolável. Esta crise nunca passará e sempre retornará vestida com outra roupa, pois não é uma crise técnica apenas e sim uma crise moral, uma crise política, uma crise gerada pela ganância que nada mais é do que a escolha de caminhos obscuros para obter-se ganhos incalculáveis, independente dos estragos que serão produzidos. A ganância está em toda parte, porém nos USA que contém arsenal militar para destruir o planeta, torna-se ainda mais perigosa. Em tempos de tecnologia da informação cada vez mais avançada, de agentes econômicos cada vez mais preparados, torna-se impossível pensar que a crise não poderia ser evitada. Tudo isto gera uma sensação de impotência, pois o controle de alguns fatores de nossas vidas parecem não estar em nossas mãos.

A ganância leva a desonestidade, mata, corrói a sociedade e no mundo globalizado, o pecado de poucos se transforma na desgraça de muitos . A ganância é a mãe das guerras, da pobreza, razão pela qual milhares de pessoas sofrem todos os dias. A ganância é o maior pecado capital e nos mostra que ainda temos muito a melhorar se quisermos viver em um mundo com menores desigualdades.

Recomendações

Documentário: TRABALHO INTERNO – Charles Ferguson

Filme: WALL STREET – Oliver Stone