quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ESCOLHAS

              Às vezes me pego pensando se eu estivesse trabalhando em São Paulo, quantas oportunidades poderiam ser abertas, salário maior, oportunidade de viagens internacionais, bons restaurantes para almoço, carro melhor. De quando em vez acontecem estas crises de pensamento. Porém, hoje de manhã saio para caminhar antes de ir ao trabalho com meu celular com as melhores músicas do mundo em minha playlist, subo até o local onde posso caminhar olhando a serra da Mantiqueira que em outra oportunidade já escrevi que é uma das maravilhas do mundo, vejo pássaros como bem-te-vi, maritacas e uma coruja de prontidão em uma construção que ela adotou como lar. Caminho, sentindo o frescor da manhã sem carros a minha volta, sem poluição. Volto para casa para o banho, um café e dirijo ao trabalho. Antes deixo meu filho e esposa para comprarem material escolar. Eles voltarão a pé para casa em uma caminhada onde sequer me preocupo com relação a riscos. Repenso: tudo isto só é possível porque escolhi ficar aqui no vale.
              Este início de texto é para dar conta de quão importante são as escolhas em nossas vidas. Talvez esteja escrevendo sobre algo que é óbvio, mas que as vezes eu mesmo esqueço. Escolher significa decidir e decidir nem sempre é fácil. Quando você tem que escolher entre uma coisa boa e uma coisa ruim é tranquilo, mas na maioria das vezes escolheremos entre duas coisas que tem vantagens e desvantagens, daí se posicionar fica mais complexo. Isto também é óbvio. Proponho então um desafio. Experimente pensar quantas bifurcações você já encontrou na sua vida, onde você escolheu um caminho e deixou o outro de lado ? Experimente pegar sua vida e coloque-a numa reta e pince pontos de escolhas importantes que fez. Este exercício não é para lamentar as escolhas que montaram sua história até aqui. Eu acredito que o processo decisivo divide-se em 4 partes: pensar, decidir, vivenciar e não se autoflagelar pela escolha que não se fez. Porém, é legal saber que passamos por momentos onde nossas escolhas fizeram completa diferença: fazer faculdade disto ou daquilo, recusar ou aceitar uma nova proposta de trabalho, casar-se ou continuar solteiro(a),  mudar-se de cidade ou continuar morando na cidade atual, tudo isto como exemplos diversos onde a história de cada um vai dizer. Se pensarmos bem, a alteração de uma escolha destas que identificamos como pontuais mudaria completamente o curso de sua vida. É um exercício maluco olhar deste ângulo. Lembro-me que em 1994, 19 anos atrás, fui escolhido para trabalhar em uma barraca numa festa da cidade como caixa para arrecadar fundos para a ADC da empresa que trabalhava. Fiz de tudo para não ir, pois não gostava da ideia de ter que ficar com o dinheiro, lidar com diferenças e contabilizar tudo. Tinha outras pessoas muito mais preparadas do que eu para aquela função. Convenhamos que aguentar bêbados ao redor da barraca lá pela madrugada, ficar dando troco, música de péssima qualidade e ainda ficar responsável pelo dinheiro todo da noite não era algo atrativo. Na famigerada noite pensei em não aparecer.  A decisão foi tomada numa fração de segundos, onde escolhi ir. Lá conheci minha esposa, que nunca havia visto na cidade. Caso eu escolhesse ficar assistindo tv... É, não dá para saber, mas é instigante pensar nisto. Uma pequena escolha teve para mim grande influência, neste caso para o lado bom.
              Para entender um pouco mais do que estou falando, recomendo ao leitor a assistir um filme chamado Mr.Nobody (Sr.Ninguém) do diretor belga Jaco van Dormael. Filme difícil de encontrar, mas de um teor filosófico fantástico. Pretendo fazer um post sobre ele de tanto que me tocou, porém preciso assisti-lo novamente, coisa que tá difícil por não achar. Fiquei anestesiado ao assistir esta obra prima. Um filme de uma beleza singular e que retrata bem o que eu falo neste texto. No filme o personagem de 118 anos é o último mortal do planeta e é escolhido para contar sua vida numa espécie de reality show. Realidade e imaginação se confundem e vários resultados são produzidos em suas recordações conforme seu imaginário e suas escolhas. O princípio do filme já demonstra uma escolha difícil onde o menino numa estação de trem tem de decidir se fica com o pai ou viaja com a mãe no trem, pelo fato do casal ter se separado. A imagem dos trilhos de trem em cruzamento é tocante, dizendo exatamente que as escolhas nos levam em diversas direções. Um dos melhores filmes que assisti e não consigo classifica-lo (drama/ficção/romance) pois quando acabou fiquei mais de meia hora sentado pensando e tentando contextualizar o que havia visto. Fotografia maravilhosa, atores excelentes e conteúdo que se faz pensar e muito.  
              Fazendo este exercício você pode ver a dimensão de como que duas pequenas palavrinhas, Sim ou Não, puderam exercer em sua vida. E se um sim virasse não ou um não virasse sim num destes momentos pontuais? Nunca saberemos. Cabe apenas um pequeno exercício da imaginação.
              Decisões e escolhas sempre irão acompanhar a vida de qualquer pessoa. Quando se usa a frase “Você é o produto de suas escolhas” parece que estamos resumindo tudo a uma equação matemática. Eu escolho acreditar que algumas escolhas são guiadas por um caminho que parece já estar traçado. Olhando depois a frente parece realmente que era exatamente assim que as coisas deveriam acontecer em sua vida. No momento da escolha você não sente isto, mas anos a frente é possível ter esta sensação.

              Continuemos o curso, escolhendo e tomando decisões e fazendo de vez em quando o mesmo exercício feito pelo personagem citado no filme Mr.Nobody, sem perder o teor de nossa história, sem arrependimentos fortes que possam paralisar, pois por mais que uma escolha tenha produzido mau resultados, sempre será tempo de escolher novos caminhos.