Olá pessoal. Andamos com um espaço de tempo entre as publicações por falta de tempo mesmo e não por falta de assunto. Volto agora para continuar nossos diálogos através das letras.
Precisamente no mês de junho passamos por uma experiência diferente em nossas vidas. Como em todo tipo de situação é possível aprender e acredito que aprendemos muito. Em abril nosso filho José Renato teve uma infecção de garganta das várias que ele vem enfrentando desde pequeno. Como em todas as anteriores, o tal antibiótico foi receitado. Ao findar do tratamento (oito dias tomando a droga) nada da famigerada dor ir embora. O diagnóstico foi trocar de antibiótico, mas daí não há estomago que aguente. O resultado da brincadeira foi tomar o novo antibiótico através da veia durante novos oito dias. Vendo todo o quadro e fazendo um balanço do sofrimento que ele vinha passando desde bebezinho, decidimos que era chegada a hora de submetê-lo a uma cirurgia para retirada de amigdalas e adenoide. Diante de todo o quadro anterior e os sofrimentos de respiração noturna, tomamos a decisão. Procuramos a médica Dra Carmem (falarei um pouco mais dela a seguir) para iniciar o processo. Na primeira consulta, conversamos e falamos do caso e num exame detalhado realmente a cirurgia era a melhor situação. Nossa preocupação era aquela de pais de filho único indo para uma cirurgia. Tensão, preocupação. Por mais simples que possa ser a cirurgia, não deixa de ter riscos devido à anestesia geral, recuperação etc.
Aparecem a partir daí, dois personagens que nos fizeram aprender muito com a situação. O primeiro personagem é a criança com toda a festa e olhar diferente do mundo. A simples notícia de ter de tomar sorvete e milk-shake para se curar foi o suficiente para o carinha ficar muito feliz. Ele não via a hora de chegar a cirurgia. Uma confiança fantástica, afinal, segundo ele, "eu não vou ver nada mesmo e depois, milk-shake "! Por mais que a criança ainda não entenda de todos os riscos que citei acima, a visão do mundo é muito diferente. Tem um olhar positivo sobre tudo e qualquer problema é incapaz de transpor seu escudo protetor contra a preocupação. Chegado o dia da cirurgia, eu e os demais ao meu redor numa pilha de nervos e o carinha dando risada. Colocou a camisola cirúrgica e foi uma farra, dando risada daquela situação ridícula, onde aquela tradicional abertura de camisolas de hospital, expõem-nos ao ridículo. Qualquer adulto perderia o humor com isto, mas uma criança dá risada do ridículo e como ele mesmo disse "meu bumbum está de fora". Até hoje é nítido em minha memória o carinha deitado na maca e se encaminhando para a sala de cirurgia. Estava coberto e só aparecia o rosto que guardava um sorriso gigantesco de quem estava se divertindo com a situação inusitada. Chega a hora da separação, onde ele tem de seguir sozinho pelo corredor do hospital. Beijos e o olhar consolador de alegria do carinha que imaginava mas não sabia o que lhe esperava. Ali, ele já estava anestesiado e protegido pela autoconfiança, coisa que nos falta em diversas situações da vida. Sim, uma criança ensina muito mais do que aprende.
Nem preciso falar que foram as três horas mais intermináveis do planeta. Até nisto tem o lado positivo; dá para medir o quanto o amor pode ser gigantesco a ponto de doer mais que fisicamente. Senti ali a dor do amor de quem daria tudo para trocar de lugar.
A cirurgia correu de forma maravilhosa. A recuperação foi um pouco difícil nos dias que se seguiram, mas tão logo as dores deram uma trégua o carinha já estava rindo da vida novamente. A vida realmente para uma criança tem o sabor de um milk-shake.
A segunda personagem deste acontecimento chama-se Dra.Carmem. Com ela verifiquei que as escolhas sempre estão em nossas mãos. Fazia tempo que não sabia o que era ser tratado como gente diante de um médico. Evidente que ir ao médico não é algo prazeroso, pois só de ir já indica que algo está errado, porém a maioria deles torna a experiência 100% pior do que é. Consultório com filas intermináveis, uma agenda nunca estabelecida com precisão, com margem de erro nos horários mostrando um desrespeito total com o ser humano; somando-se a isto, geralmente na maioria dos consultórios, encontramos secretárias nem sempre simpáticas, não vemos e nem temos a disposição sequer um café ou coisa parecida para compensar o desrespeito do horário. Para coroar toda a falta de cuidado, ele, o próprio médico, dá o toque final utilizando-se da falta de explicação adequada e em alguns casos demonstrando nitidamente a prepotência dos que pensam estar muito acima daquele que está a sua frente, não passando um minuto de firmeza sobre seus diagnósticos.
Estando acostumado a todos estes fatores é que seguimos até o consultório de Dra.Carmem para a consulta de José Renato. Até ser atendido as coisas estavam meio que iguais e ainda estava meio que descrente quanto ao atendimento que nos seria prestado ao atravessar a porta. Quando enfim fomos atendidos, senti a diferença logo no início. Um tino profissional para lidar com o ser humano como ninguém. De cara, estabeleceu-se uma empatia entre médico e paciente e entre todos nós naquela sala. Não deixou de explicar nada, dos riscos inclusive. Conversou conosco como se fossemos velhos conhecidos. Conseguiu perceber nossa aflição com relação a submeter o filho a uma cirurgia e com maestria, tratou toda a situação sem esconder nada, mas passando uma confiança que nos encorajou a seguir em frente. O atraso que ocorreu para sermos atendidos foi diferente, pois ali tinha uma médica que dava atenção aos seus consultados, o que deveria ser regra e não exceção. Fizemos ali realmente uma consulta médica. Marcamos os exames e voltamos a nos encontrar duas semanas depois. Mais uma vez, um atendimento de primeiro mundo por parte dela, continuando a nos encorajar, estabelecendo uma amizade com o José Renato, o que nos deixava tranquilos a seguir adiante. No dia da cirurgia, a mesma atenção. Quando saiu da sala de cirurgia, nos procurou e nos tranquilizou, falando sobre a cirurgia e os procedimentos a seguir dali em diante. Deixou seu celular e adiantou que qualquer problema estaria a disposição.
Dra. Carmem nitidamente gosta do que faz e faz bem feito. É uma daquelas pessoas que estão dentro daquele índice dos 5% que fazem a diferença no que fazem. O meu plano de saúde paga a mesma coisa a ela e aos outros médicos; ela tem uma rotina de trabalho extensa como os outros; vive sob tensão em processos cirúrgicos que exige precisão assim como os outros médicos. Então o que diferencia ela dos outros ?
Talvez seja que a Dra.Carmem tem a mesma visão de mundo que o José Renato, ou seja, continua a ver o mundo com o olhar da criança, aquele olhar que permite tomar atitude que transforma tudo que está ao seu redor. Para Dra. Carmem e para o José Renato a vida não lhes deve nada e tem o sabor de um MILK-SHAKE.