sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

FEIRA-LIVRE

Não sei se você leitor(a) frequenta ou algum dia já passou perto de uma feira-livre, aquela das frutas, verduras, legumes, pastel e peixe. Já há algum tempo frequento as feiras nas manhãs de quinta ou sexta para compra de frutas e verduras. Se estivesse ao meu alcance, transformaria a feira-livre em patrimônio da humanidade, protegendo-a de todos os elementos que a coloquem em risco de extinção. Digo isto, pois não existe coisa melhor do que ir a uma destas feiras para comprar frutas, verduras e levar de graça aulas de bom humor, atendimento, economia e relacionamento.

O público frequentador da feira tem um qualquer de especial. Adoro ver aqueles encontros calorosos entre as senhoras contando as novidades, falando sobre as filhas, netas, sobrinhas. Alguns dos senhores estão a discutir a economia visto que o preço de determinada leguminosa ou fruta desperta o assunto que se esvai para o lado da política econômica. Sim, a feira é um termômetro da economia medindo a inflação e quem frequenta, teria autoridade para um debate olho no olho com um ministro da fazenda por assim dizer.

Neste ambiente, alguns atendentes dão uma aula de bom atendimento que deixaria qualquer dono de empresa com inveja. Um outro ponto marcante é o bom humor que chega a contagiar. Estava em uma barraca escolhendo umas frutas quando uma senhora chega e brinca com o feirante travando o seguinte diálogo:

“- Escuta aqui menino, a semana passada comprei umas laranjas aqui e elas não estavam doces. Você não tá me enganando não né menino ? “

O rapaz com um bom humor peculiar responde:

“- Dona Ambrósia bom dia. Isto não pode ter acontecido. Acho que foi o jeito como a senhora chupou a laranja. Esta laranja é para ser degustada olhando a natureza, bem devagar, sentindo bem o caldo, pois caso contrário, azeda mesmo. A senhora não estava brigando com o marido na hora não ? Eu estou sem o manual aqui de como chupar esta laranja, mas prometo que na semana que vem eu trago. Tem mais dona Ambrósia, aqui a senhora manda. Se estava azeda a senhora tem direito a mesma quantidade de graça desta vez. “

A mulher brinca novamente:

“- Menino, eu vou levar novamente e não de graça. Vou pagar mesmo, mas se tiver me enganando vai se ver comigo semana que vem.”

A mulher escolhe e paga e o cara continuando o bom humor pergunta:

“- Nota Fiscal Paulista ?” o que remete todos a dar muita risada (isto porque a banca mal tem uma gaveta para colocar dinheiro, imagina se vai conseguir emitir uma nota paulista), inclusive a senhora que estava a pagar soltando o fechamento do diálogo:

“- Você não tem jeito mesmo !”.

Na narrativa é difícil expressar o bom humor deste diálogo dos dois personagens, mas eu que presenciei o fato dei muita risada. Em tempos onde todo mundo fica falando de Stand_Up, este cara coloca toda esta turma no bolso com sua criatividade. A senhora também é personagem marcante, pois vi que para ela era uma diversão escutar as argumentações do rapaz.

Assim é a feira por onde caminho entre os corredores, aromas e cores, escutando receitas dadas ao ar livre, gente falando da saúde de outras pessoas, lamentando a derrota do time e principalmente, comentando as manchetes que ocuparam destaque nos últimos dias. Não poderia deixar de citar a famosa barraca de pastel e não tem lugar melhor para degustar o real sabor de um pastel. Acredito que de tão gostoso, ele nem aumenta o colesterol, pois o prazer de ir a feira cura os males que ele possa vir causar. Se a dupla pipoca com guaraná ficou famosa numa propaganda, aqui seria a dupla pastel com caçulinha.

Ao lado da feira de frutas e verduras tem a feira de “bugigangas” onde se acha desde baralho de jogo do mico até livro de filosofia. Impressionante como tem coisas malucas nesta feirinha. Aparelho de som velho, fio de extensão, roupas, sapatos, ferramentas diversas, relógio, fita de vídeo (encontrei uma do Daniel Boone se dá para acreditar !) revistas velhas de todas as editoras, torneiras, chuveiros etc. Além disto, tem a UTI das panelas (fantástico o nome, que criatividade !) onde você deixa sua panela e ela vira novinha em folha seja qual defeito tiver. Neste mesmo lugar, tem uma banca de vendas de Cd’s onde o cara brinda a feira com sucessos de todos os tempos. Normalmente toca músicas de todos os tipos, de grandes sucessos das novelas a Roberto Carlos, Benito Di Paula etc.. Nesta semana tocava os grandes sucessos do Wando que morrera há alguns dias. Quer empreendedor mais antenado no mercado do que este ? Vi o pessoal lá comprando os Cd’s do rapaz. (Como observação, a música brega brasileira já foi muito melhor – olha o paradoxo - visto que agora vamos de Michel Teló - sem comentários!).

Por todos estes motivos, a feira livre, não somente as que eu frequento , mas todas espalhadas pelos cantos do Brasil, para mim são patrimônio e não deveriam nunca deixar de existir. Quando era pequeno não entendia como meus pais acordavam tão cedo apenas para ir à feira. Como que algumas respostas demoram a chegar! Tomara que todos nós tenhamos a vontade de evoluir sem destruir elementos tão enriquecedores da convivência humana.

Vida longa a feira-livre !!!