Às
vezes me pego pensando se eu estivesse trabalhando em São Paulo, quantas
oportunidades poderiam ser abertas, salário maior, oportunidade de viagens
internacionais, bons restaurantes para almoço, carro melhor. De quando em vez
acontecem estas crises de pensamento. Porém, hoje de manhã saio para caminhar
antes de ir ao trabalho com meu celular com as melhores músicas do mundo em
minha playlist, subo até o local onde posso caminhar olhando a serra da Mantiqueira
que em outra oportunidade já escrevi que é uma das maravilhas do mundo, vejo
pássaros como bem-te-vi, maritacas e uma coruja de prontidão em uma construção
que ela adotou como lar. Caminho, sentindo o frescor da manhã sem carros a
minha volta, sem poluição. Volto para casa para o banho, um café e dirijo ao
trabalho. Antes deixo meu filho e esposa para comprarem material escolar. Eles
voltarão a pé para casa em uma caminhada onde sequer me preocupo com relação a riscos.
Repenso: tudo isto só é possível porque escolhi ficar aqui no vale.
Este início de texto é para dar
conta de quão importante são as escolhas em nossas vidas. Talvez esteja
escrevendo sobre algo que é óbvio, mas que as vezes eu mesmo esqueço. Escolher
significa decidir e decidir nem sempre é fácil. Quando você tem que escolher
entre uma coisa boa e uma coisa ruim é tranquilo, mas na maioria das vezes
escolheremos entre duas coisas que tem vantagens e desvantagens, daí se
posicionar fica mais complexo. Isto também é óbvio. Proponho então um desafio.
Experimente pensar quantas bifurcações você já encontrou na sua vida, onde você
escolheu um caminho e deixou o outro de lado ? Experimente pegar sua vida e coloque-a
numa reta e pince pontos de escolhas importantes que fez. Este exercício não é
para lamentar as escolhas que montaram sua história até aqui. Eu acredito que o
processo decisivo divide-se em 4 partes: pensar, decidir, vivenciar e não se autoflagelar pela escolha
que não se fez. Porém, é legal saber que passamos por momentos onde nossas
escolhas fizeram completa diferença: fazer faculdade disto ou daquilo, recusar
ou aceitar uma nova proposta de trabalho, casar-se ou continuar solteiro(a), mudar-se de cidade ou continuar morando na
cidade atual, tudo isto como exemplos diversos onde a história de cada um vai
dizer. Se pensarmos bem, a alteração de uma escolha destas que identificamos
como pontuais mudaria completamente o curso de sua vida. É um exercício maluco
olhar deste ângulo. Lembro-me que em 1994, 19 anos atrás, fui escolhido para
trabalhar em uma barraca numa festa da cidade como caixa para arrecadar fundos
para a ADC da empresa que trabalhava. Fiz de tudo para não ir, pois não gostava
da ideia de ter que ficar com o dinheiro, lidar com diferenças e contabilizar
tudo. Tinha outras pessoas muito mais preparadas do que eu para aquela função. Convenhamos
que aguentar bêbados ao redor da barraca lá pela madrugada, ficar dando troco,
música de péssima qualidade e ainda ficar responsável pelo dinheiro todo da
noite não era algo atrativo. Na famigerada noite pensei em não aparecer. A decisão foi tomada numa fração de segundos,
onde escolhi ir. Lá conheci minha esposa, que nunca havia visto na cidade. Caso
eu escolhesse ficar assistindo tv... É, não dá para saber, mas é instigante
pensar nisto. Uma pequena escolha teve para mim grande influência, neste caso
para o lado bom.
Para entender um pouco mais do que
estou falando, recomendo ao leitor a assistir um filme chamado Mr.Nobody (Sr.Ninguém)
do diretor belga Jaco van Dormael. Filme
difícil de encontrar, mas de um teor filosófico fantástico. Pretendo fazer um
post sobre ele de tanto que me tocou, porém preciso assisti-lo novamente, coisa
que tá difícil por não achar. Fiquei anestesiado ao assistir esta obra prima.
Um filme de uma beleza singular e que retrata bem o que eu falo neste texto. No
filme o personagem de 118 anos é o último mortal do planeta e é escolhido para
contar sua vida numa espécie de reality show. Realidade e imaginação se
confundem e vários resultados são produzidos em suas recordações conforme seu
imaginário e suas escolhas. O princípio do filme já demonstra uma escolha
difícil onde o menino numa estação de trem tem de decidir se fica com o pai ou
viaja com a mãe no trem, pelo fato do casal ter se separado. A imagem dos
trilhos de trem em cruzamento é tocante, dizendo exatamente que as escolhas nos
levam em diversas direções. Um dos melhores filmes que assisti e não consigo classifica-lo
(drama/ficção/romance) pois quando acabou fiquei mais de meia hora sentado
pensando e tentando contextualizar o que havia visto. Fotografia maravilhosa,
atores excelentes e conteúdo que se faz pensar e muito.
Fazendo este exercício você pode
ver a dimensão de como que duas pequenas palavrinhas, Sim ou Não, puderam
exercer em sua vida. E se um sim virasse não ou um não virasse sim num destes
momentos pontuais? Nunca saberemos. Cabe apenas um pequeno exercício da
imaginação.
Decisões e escolhas sempre irão
acompanhar a vida de qualquer pessoa. Quando se usa a frase “Você é o produto
de suas escolhas” parece que estamos resumindo tudo a uma equação matemática. Eu
escolho acreditar que algumas escolhas são guiadas por um caminho que parece já
estar traçado. Olhando depois a frente parece realmente que era exatamente
assim que as coisas deveriam acontecer em sua vida. No momento da escolha você não
sente isto, mas anos a frente é possível ter esta sensação.
Continuemos o curso, escolhendo e
tomando decisões e fazendo de vez em quando o mesmo exercício feito pelo
personagem citado no filme Mr.Nobody, sem perder o teor de nossa história, sem
arrependimentos fortes que possam paralisar, pois por mais que uma escolha
tenha produzido mau resultados, sempre será tempo de escolher novos caminhos.