Hoje gostaria de compartilhar com o amigo leitor, um assunto que mistura história, conhecimento sobre negócios, nostalgia e o prazer que se sente quando somos atendidos literalmente sob medida às nossas expectativas. Colhi todos estes elementos em uma visita ao senhor Manoel, alfaiate habilidoso com mais de 30 anos de profissão, que ainda resiste a toda produção industrial e em escala que se tornou lei em todos os seguimentos inclusive nos têxteis, desde a famosa revolução industrial. Todos nós sabemos dos benefícios que a produção em escala trouxe ao mundo e nem tenho propósito de discutir isto nestas linhas. Porém, alguns fatos merecem a exposição.
Mas o que isto tem haver com um alfaiate ? Vejamos:
Minha visita ao senhor Manoel começa quando da compra de uma calça onde a numeração 42 ficava larga e a 40 ficava apertada. A maioria das calças que experimentei na loja em questão, caia no mesmo problema que segundo o vendedor, interessado muito mais na comissão da venda, seria prontamente resolvido levando a calça mais larga e literalmente apertando os cintos.
Não sei se o leitor já enfrentou tal situação mas a indústria não produz a numeração 41, 41,5 etc. A solução então foi em uma conversa com meu pai e minha mãe, pedir uma indicação de como resolver o problema. Através deles, cheguei até Manoel alfaiate, dono de um estabelecimento comercial de frente ao seminário Bom Jesus, onde me deparei com um senhor de cabelos brancos, sentado em uma máquina de costura com exímia habilidade no manusear no pedal em sincronia total com o manuseio da roupa sobre a agulha que trabalhava incessantemente no conserto daquela peça. No ambiente, panos de várias cores pendurados e um espaço ao fundo utilizado como provador das roupas. Um rádio 3 em 1 (lembram-se dele ? ) funcionando e a imagem de nossa senhora em um mini altar na parede com uma luz avermelhada indicando a fé do dono do estabelecimento.
Travamos ali uma conversa entre gerações distintas que me trouxe conhecimentos e lembranças da infância onde via a querida Dona Natalina, esposa do senhor Vavá muito amigos de meus pais manuseando a mesma máquina que já não via há tempos. O diálogo foi tão interessante que solicitei a autorização de ficar ali aguardando o conserto da roupa. Entre o experimentar da roupa para tirar as medidas e o conserto propriamente dito, senhor Manoel me contou como fazer roupas era algo pomposo há 40 anos. As pessoas andavam muito mais alinhadas, pois uma roupa feita sob medida tornava a pessoa muito mais elegante. Os ternos predominavam como vestimentas masculinas mais característica e eram comum lojas especializadas na venda de panos onde vendedores debruçavam modelos e mais modelos sobre o balcão, tendo em mãos as ferramentas indispensáveis para aquele trabalho: metro e tesoura. Lembro-me de uma destas lojas no centro de Guaratinguetá onde fui com meus pais mais de uma vez comprar panos.
Minha curiosidade era cada vez maior a respeito do assunto e cada vez mais, ficava impressionado com a habilidade do senhor Manoel nos consertos. Perguntei a ele como havia sobrevivido a todo este tempo e o que fez acabar com os outros companheiros de profissão. Senhor Manoel respondeu prontamente “É claro que a produção de roupas de maneira industrial complicou nossas vidas, mas minha percepção foi mudar junto com a mudança. A maioria dos alfaiates faziam roupas novas e não se especializavam em consertos, que davam menos faturamento na época. Eu adaptei-me rápido e quando vi que as roupas seriam produzidas pela industria, decidi me especializar cada vez mais nos consertos pequenos. É lógico que ainda continuo a fazer roupas novas mas para uma gama menor de clientes. Além disto, tenho clientes de mais de 30 anos que seguem comigo até hoje e vão passando para os filhos que chegam até aqui como você chegou.”
. Você quer lição maior sobre negócios e carreira do que esta ? Enquanto vários palestrantes e consultores de negócios cobram fábulas para ditar caminhos da atualidade, senhor Manoel dá as aulas na prática numa simples conversa. Ele ainda me contou que em Aparecida existiam diversos alfaiates muito bons profissionais que não souberam lidar com tal situação e mudaram de profissão ou de ramo de negócio.
Depois de toda conversa, Sr. Manoel me indica que está pronto o conserto e me pede para experimentar a calça. Quando coloco no corpo sinto a diferença do antes e depois. Medida exata, barra perfeita e uma outra concepção do modelo em meu corpo. Pago com prazer duplo por ter tido uma aula de história, nostalgia e negócios, e por ter uma calça exatamente conforme as minhas medidas.
Termino combinando uma confecção de uma calça por inteiro e com a certeza de que Sr Manoel ganhou mais um freguês e um propagandista para ajudar a perpetuar sua profissão independente das “revoluções” que possam advir por aí.
Ao ler esta crônica do meu amigo Renato passou em minha mente um cinema. Sendo uma cinquentona vivi infância e adolescência perto do Seu Manoel e sua esposa dona Neide Guarino. Ha!!!! se a Praça São Benedito falasse... Neste momento uma nostalgia e lembranças sussurram no meu coração. Lembro do seu atelier o seu óculos de aro preto( acho que até hoje ainda é preto)e tambem admirava sua habilidade na costura.O tempo andou, andou...e ele persistiu na sua arte. E hoje; alí esta ele em frente do Seminário Bom Jesus adaptando sua arte e mostrando sua habilidade para poucos que ainda enxergam o essencial da elegância.
ResponderExcluirSilvania Maria Nogueira de Lima / 15/07/2010
Ao ler esta crônica do meu amigo Renato passou em minha mente um cinema. Sendo uma cinquentona vivi infância e adolescencia perto do seu Manoel e de sua esposa dona Neide Guarino. Ha!!! se a praça São Benedito falasse...Neste momento uma nostalgia e lembranças sussurram no meu coração e na minha mente. Lembro do seu atelier e de seus óculos de aro preto(acho que até hoje ainda é preto) e também admirava sua habilidade na costura. O tempo andou, andou ...e ele persistiu na sua arte. E hoje....alí está ele em frente do Seminário Bom Jesus adaptando sua arte e mostrando sua habilidade para poucos que ainda enxergam o essencial da elegância.
ResponderExcluirPô, Renato! Coloca uma foto aí de você com a calça pra gente ver! Muito bom seu texto. Dá vontade de ter roupas certas também! abs
ResponderExcluir